Ser pastor é um trabalho difícil, cansativo e estressante. Eles estão à disposição a qualquer hora do dia ou da noite. Lidam com problemas familiares, de saúde e, mais recentemente, com os efeitos da polarização. Imagine, então, o drama de quem escolheu ser pastor e se descobriu gay.
O sofrimento começa pela desinformação. Pastores como Cláudio Duarte romperam alguns tabus ao falar de sexualidade entre casais heterossexuais. Jackie e Lucas Hayashi, celebridades gospel, admitiram em entrevista ao podcast JesusCopy a resistência das famílias evangélicas em conversar com os filhos sobre sexualidade.
Os que falam ensinam que Deus criou o homem e a mulher heterossexuais. Que o desejo por alguém do mesmo sexo é safadeza, desvio de caráter e leva ao inferno. Igrejas são espaços de convivência profunda. Membros convivem e se relacionam por muitos anos, às vezes por gerações. Ao se assumir, o pastor perde o acesso a esses espaços e aos afetos que moldaram sua identidade.
Quem se esconde vive em solidão. Não pode ser honesto nem com os amigos mais próximos da igreja. Quem sai do armário torna-se um pária. Como um leproso bíblico, é abandonado e, quando enfrenta dificuldades ou perigos, não tem a quem recorrer.
Tem mais: pastores são incentivados a se casar e formar família. Ao considerar sair do armário, pesa saber que sua esposa e filhos também serão estigmatizados e perderão os benefícios de pertencer à comunidade de fé. Há ainda o medo de ser demonizado e perder a guarda ou o afeto dos filhos.
O medo se estende ao trabalho. Pastorear é sua profissão. Em muitos casos, ele não sabe fazer outra coisa. Se contar à igreja que é gay, perde o sustento e o meio de cuidar da família.
Por fim, há o impacto na espiritualidade. A fé foi, durante toda a vida, o apoio para enfrentar dificuldades e dúvidas existenciais. Assumir-se gay, nesse contexto, é como abrir uma panela de pressão quente —e a explosão costuma afastá-lo da fé.
Pastores que já atravessaram esse mar de angústia deixam dois conselhos: busque ajuda espiritual —com pastores abertos ao tema— para não se distanciar da fé e encontre apoio psicológico para lidar com os traumas e desafios de assumir a sexualidade.
Há igrejas afirmativas no Brasil, especialmente em São Paulo, abertas à comunidade LGBT. Para quem quer o culto pentecostal, a Cidade de Refúgio, liderada pelas pastoras Lanna Holder (@LannaHolderOficial) e Rosania Rocha, é conservadora nos valores. A Betesda, do pastor Ricardo Gondim (@RicardoGondim), é mais progressista. Entre igrejas históricas, há o pastor Marcos Apolônio(@MarcosApolonio_Dr) —gay e especialista em saúde mental—, que atua na Um Lugar Comunidade. E a Igreja Contemporânea do pastor Marcos Gladstone (@Marcos.Gladstone).
Para quem não está em capitais, há livros. Recentemente, 14 autores criaram o “Manual de Cristianismo e LGBTI+”, disponível online, no qual indicam meios para reconciliar esses mundos.
Se você vive com essas dores, não sofra em silêncio. Você não está sozinho. Procure apoio.
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Fonte ==> Folha SP