Acabei de voltar de um fim de semana na Itália, de uma grande feira de livros em Turim, onde lancei a tradução italiana da minha trilogia sobre a Era da Burguesia, e depois fiz debates com o grande grupo de pensadores liberal de Milão, o Instituto Bruno Leoni. Leoni (1913-1967) foi professor de direito, um dos poucos liberais italianos do século passado. O diretor do instituto, Alberto Mingardi (n. 1981), também é um dos poucos grandes e bons.
Vou à Itália e ao Brasil sempre que posso. Além de comer muito bem, tento, à minha maneira modesta, encorajar os poucos liberais nos dois países. O que sempre me impressiona é como eles são poucos, em ambos –talvez mais raros no Brasil do que na Itália.
Eu já disse a vocês o que vocês já sabem, que o Estado é operado principalmente em benefício dos ricos, ou, na melhor das hipóteses, do eleitor médio, próspero e confuso. O governo da vez pode ser de esquerda ou de direita. No entanto, os brasileiros adultos sabem o mesmo que os italianos adultos: “governo ladro”. Os italianos dizem também “l’occasione fa l’uomo ladro”, “a ocasião faz o ladrão”. Um governo grande e moderno oferece infinitas oportunidades para oprimir Helena, a fim de dar permissões lucrativas a Miguel.
Brasileiros e italianos –e americanos, chineses e alemães, ou pelo menos os adultos entre eles– sabem disso. No entanto, o paradoxo é que eles continuam a votar num Estado cada vez maior. Eu choro por causa disso e aponto para a Argentina sob Javier Milei, que aplaudo.
A última vez que estive na Itália foi algumas semanas antes, para participar de uma fascinante reunião de empresários em Roma –com comida muito boa. Ótimo! Os empresários ouviram vários oradores, alguns dos quais eram liberais como eu. O último orador, porém, foi um poderoso ministro de Estado, um economista que, segundo me disseram, já foi razoavelmente liberal. Mas, como disse um grande historiador inglês há muito tempo, “o poder tende a corromper”.
Sua retórica era toda sobre “dirigir” a economia, como se fosse um automóvel, encontrar “políticas sustentáveis”, que acabam sendo formas de continuar oprimindo Helena, em “parcerias público-privadas”, ou seja, privilégios corruptos para Miguel, porque estamos sempre em “crise”, sempre com novos “problemas” a serem “resolvidos” para todas as “partes interessadas” alcançarem a “competitividade” –por exemplo, estabelecendo o “comércio justo”, protegendo Miguel da concorrência, o que “cria empregos” por meio do “papel de liderança” do… Estado, e do ministro de Estado que acredita ser um economista. Se você fala desse jeito, você não é um liberal.
A discussão entre a interferência estatista na economia, por um lado, e, por outro, deixar a economia à vontade, é muito antiga. Em 81 a.C., na China, na corte do imperador Han, um debate sobre o “Discurso sobre o sal e o ferro” colocou os “liberais” confucionistas contra os estatistas legalistas, que defendiam os monopólios impostos pelo imperador anterior ao sal e ao ferro, e às moedas. Um famoso poema chinês fala sobre a esposa do monopolista do sal, cujas pulseiras ficam cada vez mais apertadas à medida que ela engorda com o monopólio de seu marido, imposto pelo Estado.
Até os poetas sabem.
Fonte ==> Folha SP