Às vezes escrevo sobre filmes que ganharam títulos idiotas no Brasil —”After Hours”, alta madrugada, tornou-se “Depois de Horas”; “Stuart Little”, “O Pequeno Stuart Little”; muitos mais. É como se os encarregados de titulá-los tivessem aprendido inglês com Tarzan. E o problema vem de longe. Meu favorito é “East of Sumatra” (1953), que aqui se chamou “Ao Sul de Sumatra”. Mas o contrário também acontece. Há títulos em português que, graças à criatividade do tradutor, são, para mim, melhores do que os originais.
Adoro “Amor, Sublime Amor” (1961) para “West Side Story”. Nada a ver com a trama, que é “Romeu e Julieta” numa Nova York violenta e racista, mas tem origem ilustre. Foi tirado de um verso de “Rosa”, a valsa-canção de Pixinguinha com letra de Octavio de Souza: “A forma ideal, estátua magistral, oh alma perenal/ Do meu primeiro amor, sublime amor”. E “Crepúsculo dos Deuses” (1950), sobre a esquecida estrela do cinema mudo que ainda se vê como diva? Muito mais alusivo à história do que “Sunset Boulevard”, que fala em crepúsculo, mas é só a via de Los Angeles onde se passa o filme.
Assim como “Matar ou Morrer” (1951), muito mais dramático que o original “High Noon”, que significa prosaicamente meio-dia. E como “The Searchers”, pessoas que perseguem ou procuram alguém, pode superar “Rastros de Ódio” (1956), em que John Wayne, babando vingança, busca sua sobrinha raptada por indígenas?
Mesmo “Os Brutos Também Amam” (1953) supera de longe o original “Shane”, que é apenas o nome do herói. O título é enganador, porque Shane não é um bruto —na verdade, é o pistoleiro mais sensível do Oeste. Mas vale pela beleza da frase, tão inusitada para um western. E gosto mais de “Quanto Mais Quente Melhor” (1959) do que do impreciso “Some Like it Hot”—e esse quente não tem a ver com temperatura, mas com sexo.
“Rebecca” (1940), de Hitchcock, chamou-se aqui “Rebeca, a Mulher Inesquecível”. Até aí, tudo bem —até o carioca começar a chamá-lo de “Recível, a Mulher Inesquebeca”.
Fonte ==> Folha SP