Na minha busca por estudos sobre a importância de brincar na velhice, descobri o livro “Play”, de Stuart Brown. Para o psiquiatra, brincar é uma habilidade presente em todos os seres humanos, uma necessidade básica para a sobrevivência, uma ferramenta para o desenvolvimento de nossas competências emocionais.
De acordo com Brown, nada ilumina mais o cérebro do que brincar. Há uma espécie de mágica no brincar que pode salvar vidas, pois aumenta o equilíbrio emocional e confiança nos outros, ajuda a controlar o medo e a resolver problemas, fortalece o sistema imunológico e a capacidade de adaptação a circunstâncias adversas, ensina a estabelecer prioridades e colocar limites, a pensar mais livremente e a ser uma pessoa mais autônoma, autêntica, amorosa, corajosa, empática, criativa, curiosa, otimista, perseverante, flexível e saudável.
O problema, segundo o autor, é que muitos enxergam o brincar como uma atividade infantil. No entanto, brincar é uma habilidade que todos nós temos, mas que perdemos ao longo da vida. Brincar é muito mais do que uma mera diversão ou distração: é uma energia vital tão importante quanto dormir, sonhar e trabalhar. É um estado de espírito, a expressão de nossa individualidade, de nossa verdade, vontade e criatividade.
Na minha busca, também reli artigos e livros de Donald Woods Winnicott, como “O brincar e a realidade”.
“É no brincar, e talvez apenas no brincar, que a criança ou o adulto fruem na sua liberdade de criação… É no brincar, e somente no brincar, que o indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral”.
Para o psicanalista, brincar também é essencial para a vida adulta, pois é por meio da brincadeira que as pessoas podem verdadeiramente criar e desfrutar de sua personalidade. Brincar é um espaço de liberdade, de criatividade e de expressão das emoções, que permite que o adulto seja criativo e autêntico, o que estimula que ele desenvolva uma melhor compreensão de si mesmo e do mundo ao seu redor.
Winnicott revela o potencial curativo de brincar na vida adulta. A brincadeira pode ser terapêutica, pois proporciona um espaço para experimentar coisas novas e enfrentar medos, obstáculos, perigos e desafios da vida real. Brincando, a criança e o adulto podem usar todo o seu potencial com liberdade e criatividade e, assim, encontrar saídas criativas para adversidades, ameaças e traumas. Brincando, os mais velhos podem se reconectar com sua criança interior, recuperar a criatividade, curiosidade, autenticidade e espontaneidade da infância, fortalecer os laços sociais e a interação com outras pessoas, promover a sensação de cuidado, acolhimento e pertencimento.
Resumindo, brincar é uma atividade ou atitude terapêutica, curativa, não apenas para as crianças, mas também para os mais velhos. É um modo criativo de enfrentar a realidade do envelhecimento, valorizando a alegria de estar vivo.
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Quando ficamos mais velhos, passamos a nos sentir culpados por brincar, já que somos ensinados a acreditar que é um desperdício de tempo, uma atividade improdutiva e até mesmo pecaminosa.
O que eu mais amo fazer, todos os dias, é brincar com meus melhores amigos nonagenários. Eles me ensinaram que ter a coragem de brincar, sem medo e vergonha, é o que faz a minha vida valer a pena. Quem quer brincar comigo?
Fonte ==> Folha SP