5 de agosto de 2025

Ciência made in Brazil – 04/08/2025 – Opinião

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Aumentar a concessão de diplomas de ensino superior e de pós-graduação não é suficiente. É preciso que os formados consigam produzir conhecimento e contribuir para o desenvolvimento do país após saírem da universidade. E o Brasil enfrenta deficiências nessa seara.

Em relação à titulação imprescindível para a área acadêmica e científica, o número de diplomas de doutorado emitidos saltou de 2.854 em 1995 para 20.679 em 2021, segundo levantamento do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, organização social supervisionada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, publicado no ano passado.

No entanto a taxa de emprego formal entre doutores titulados desde 1996 caiu de 74,8% em 2009 para 67,7% em 2021. Assim, muitos pesquisadores saem do país em busca de melhores oportunidades profissionais.

Para conter o fenômeno da “fuga de cérebros”, repatriando cientistas, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) lançou o Conhecimento Brasil em 2024.

O programa, que tem duração de até cinco anos, receberá aporte do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico em torno de R$ 600 milhões —para passagens aéreas, compra de materiais, auxílios e bolsas mensais (R$ 13 mil para doutor e R$ 10 mil para mestre).

Foram escolhidos 567 projetos, dos quais 251 de pesquisadores que já moram no Brasil. Apesar de o edital prever a seleção de profissionais que tenham concluído doutorado ou pós-doutorado no exterior e estejam residindo no país, a proporção causa estranheza, dada a função do programa anunciada em 2024.

Não está claro se a falta de mais brasileiros expatriados na lista se deve a verbas e oportunidades melhores em outras nações, mas essa já era uma condição conhecida desde o início.

Ademais, o edital estabelecia que 40% dos recursos deveriam ser direcionados às regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, que acabaram recebendo 30%. O Sudeste, com mais polos científicos, obteve a maior fatia (51%).

O objetivo do Conhecimento Brasil é correto, mas, como toda política pública, deve ser monitorada para que se avaliem resultados e se identifiquem distorções.

Também é necessário deixar ideologias e corporativismos de lado e rever o financiamento público das universidades, que há tempos se mostra insustentável, a partir de pagamentos de alunos mais abastados e parcerias público-privadas. Ainda melhor do que atrair cérebros, é fazer com que eles não queiram partir.

editoriais@grupofolha.com.br



Fonte ==> Folha SP

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