8 de agosto de 2025

Câmeras mostram polícia que mata – 07/08/2025 – Opinião

A imagem mostra uma cena de ação policial, onde um policial armado está em pé, apontando uma arma em direção a uma pessoa que está agachada ou encostada em uma parede. A iluminação é baixa, e há um veículo ao fundo. A data e hora da gravação estão visíveis no canto superior direito, indicando que foi registrada em 13 de junho de 2025.

Menos de um mês após dois agentes da Polícia Militar matarem um suspeito já rendido, a brutalidade das forças de segurança de São Paulo é novamente captada por câmeras corporais. O caso ocorreu no dia 13 de junho, mas as imagens aterradoras foram divulgadas recentemente pela TV Globo e obtidas pela Folha.

O morador de rua Jeferson de Sousa Santos, que não oferecia resistência, foi alvejado por três tiros de fuzil disparados pelo tenente Alan Wallace dos Santos Moreira, enquanto o soldado Danilo Gehrinh participava da ação.

Os dois policiais foram presos e denunciados por homicídio doloso (quando há intenção de matar) no dia 22 de julho.

Trata-se de mais uma ocorrência que poderia ter ficado impune se não fosse pela tecnologia.

Os PMs disseram que Santos havia tentado tomar a arma de um deles, mas as imagens não corroboram esse relato.

A vítima aparece com as mãos atrás da cabeça e, depois, com mãos atrás das costas. Sem realizar movimentos bruscos, coloca os braços à frente, aparentemente para serem algemados. Nesse momento, foi assassinada. O Ministério Público qualificou a ação como “mero sadismo” que revela “desprezo pelo ser humano”.

O vídeo está sem áudio porque os agentes não acionaram o dispositivo, e um deles diversas vezes bloqueia a lente, o que contraria normas da corporação.

O episódio chocante reforça a importância das câmeras e expõe tentativas de prejudicar a captação de imagem e som.

O tema envolve idas e vindas. Durante a campanha eleitoral em 2022, o então candidato Tarcísio de Freitas (Republicanos) chegou a afirmar que retiraria as câmeras das fardas. No final de 2024, já governador, admitiu que estava “completamente errado”.

Há também um debate sobre o acionamento. As câmeras atuais permitem gravação ininterrupta —o policial liga o dispositivo apenas para melhorar a qualidade do vídeo e ativar o áudio.

No ano passado, o governo fez uma licitação para comprar 12 mil equipamentos que gerou críticas de especialistas, já que eles precisam ser ativados ou pelo agente ou pela central de operações.

Só as câmeras não controlam o uso da força. Sua eficácia depende de protocolos de acionamento e de formatos de armazenagem, além de medidas integradas que envolvam treinamento, fortalecimento de órgãos de controle e combate à impunidade.

As imagens dos casos recentes mostram não só brutalidade policial, mas também as falhas da gestão paulista em contê-la.

editoriais@grupofolha.com.br



Fonte ==> Folha SP

Leia Também

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *