A trajetória de milhões de famílias brasileiras nas últimas décadas, sobretudo as vinculadas a programas sociais como o Bolsa Família, oferece a lição macroeconômica de que o esforço individual pela educação é insuficiente para garantir a ascensão social se o país flerta com o descontrole fiscal.
Nos últimos dez anos, a escolaridade da metade mais pobre do Brasil aumentou 22,5%, mas a renda dessa mesma parcela progrediu meros 4%, de acordo com dados da FGV Social.
O período foi marcado pela profunda recessão de 2015-16, quando o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro encolheu cerca de 7% como resultado da política econômica de gastos irresponsáveis do governo Dilma Rousseff (PT), que sucedeu anos de bom crescimento e ajuste orçamentário.
Durante 20 anos, a Folha acompanhou a trajetória de duas famílias dependentes do Bolsa Família em Jaboatão dos Guararapes, no estado de Pernambuco. Enquanto o país mantinha as contas públicas em razoável ordem, até meados dos anos 2010, elas progrediram. As crianças estudavam e tinham sonhos de entrar na universidade.
Quando veio a crise em 2016, foram obrigadas a se submeter a empregos informais, dos quais dependem até hoje.
Segundo pesquisa do Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social que acompanhou 15,5 milhões de jovens dependentes do Bolsa Família de 2012 até 2024, 33,5% deles permaneceram no programa —antes, como dependentes dos pais; agora, como beneficiários principais. Outros 17,6% continuam no CadÚnico, que registra os mais vulneráveis, mas sem receber o benefício.
Criado em 2003, o Bolsa Família saltou de 3,6 milhões de beneficiários à época para 19 milhões hoje, consumindo R$ 13 bilhões mensais; 47% no Nordeste. O programa é reconhecido internacionalmente e tem efeito multiplicador poderoso, o que leva o entorno das regiões com mais penetração a ganhar dinamismo.
Entretanto a principal porta de saída para os beneficiários tem sido o mercado de trabalho, que depende não de gastos do governo, mas de um ambiente de negócios estável e previsível.
Ao mesmo tempo em que a atual gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comemora dados positivos no mercado de trabalho, ela mina, por outro lado, o terreno para a manutenção de um crescimento duradouro.
O Brasil deve encerrar 2025 com os maiores déficits orçamentário e nas relações com o resto do mundo na comparação com as principais economias —indicativos de graves desequilíbrios, de resto explicitados em uma taxa básica de juros de 15% ao ano.
Cumpre recordar que, em 2014, na véspera da grave crise engendrada pelos gastos de outra gestão petista, o Brasil apresentava taxa de desemprego de apenas 4,8%, ainda menor do que a atual.
Se a história recente tem algo a ensinar nessa seara, é que o cenário pode mudar rapidamente.
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Fonte ==> Folha SP