Os desafios da educação brasileira passam por diferentes fatores. Não adianta ter uma escola com infraestrutura moderna, se os alunos não se concentrarem em aprender por estarem distraídos com a tecnologia. Não adianta ter tempo integral, se as salas de aula estão decadentes. Não adianta só aprender matemática e português, se os jovens não aprenderem a conviver em sociedade.
Não será uma única ação que resolverá os problemas. Mas um fator tem o poder de mediar todos os demais: o professor em sala de aula.
Sem professores preparados para enfrentar os desafios do dia a dia das escolas e de seus alunos, dificilmente as outras ações serão efetivas para alcançar bons resultados. E são muitos os atuais problemas relacionados aos professores hoje no Brasil. Para citar alguns, há baixa atratividade da carreira, não cumprimento do piso salarial, falta de professores em regiões remotas e de áreas de conhecimento específicas, excesso de professores temporários, violência nas escolas e formação inicial deficiente.
Tentando abordar estes desafios, o governo federal apresentou neste mês iniciativas combinadas. O Programa Mais Professores apresenta de forma sistêmica ações integradas para melhorar a atratividade e a qualificação da carreira docente.
Um dos braços do programa é a Prova Nacional Docente, que funcionará como um Enem dos processos seletivos de professores para as redes de ensino. Ou seja, o Inep realizará uma prova unificada nacional e os estados e municípios poderão utilizar os resultados dessa prova para selecionar candidatos em suas redes. Com isso, os entes que enfrentam dificuldades logísticas ou financeiras de promover concursos para professores efetivos devem se beneficiar desta iniciativa.
Outra ação é a Bolsa Pé-de-Meia Licenciaturas, em alusão ao programa Pé-de-Meia para estudantes do ensino médio. A bolsa mensal, no valor de R$ 1.050, será oferecida a ingressantes em cursos de licenciatura presenciais que tiverem nota acima de 650 no Enem. Dois terços da bolsa ficará disponível para o estudante de licenciatura, enquanto o outro terço só poderá ser sacado depois de formado e se for lecionar em uma rede pública de ensino.
Esta iniciativa foi inspirada em ações de países vizinhos, que tiveram impacto positivo no ingresso no magistério, mas que não garantem a permanência na carreira docente. A poupança forçada serve como um incentivo para que os novos professores aumentem o contingente de profissionais onde são mais necessários. Os números preliminares do Sisu (Sistema de Seleção Unificada) deste ano já apontam um aumento na procura por cursos de licenciatura.
Em relação à formação, o programa disponibiliza um portal que sintetiza informações sobre oportunidades de formação inicial e continuada. É um passo útil, mas serão necessários muitos outros para garantir a qualidade das formações oferecidas.
Enfrentar os desafios da carreira exige uma abordagem ampla, e o programa anunciado representa um avanço nesse sentido. Para que essas iniciativas tenham impacto duradouro, será essencial garantir sua implementação efetiva, acompanhar seus resultados e manter o compromisso com a valorização dos professores como peça-chave para a transformação da educação no país.
Fonte ==> Folha SP