Recém-alçado ao comando da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB) endossou o discurso do mercado financeiro e da oposição de que os números da economia são preocupantes, a situação é grave, o governo precisa fechar a torneira dos gastos e que o ministro Fernando Haddad tem sido vencido no debate interno do governo.
O diagnóstico pode até parecer um sinal de apoio à agenda de corte de despesas do ministro da Fazenda. Mas, ao contrário, a fala dá munição extra ao movimento em curso de enfraquecimento de Haddad.
Primeiro, foi a crise do Pix. Depois, foi Gilberto Kassab, presidente do PSD, partido da base aliada, dizendo que Haddad é um ministro fraco.
Em seguida, o presidente Lula fechou as portas para novas medidas de corte de gastos, quando nos bastidores a equipe econômica ainda tentava vender aos investidores que haveria medidas adicionais.
Soma-se a essas três bordoadas a pesquisa Genial/Quaest assinalando que Haddad lidera a lista das maiores rejeições (56%) entre as 12 lideranças políticas.
Se quiser ajudar, Motta precisa sair do discurso e construir uma pauta de votação de projetos de ajuste nas despesas. Eles existem no cardápio. Chamar o ministro Haddad de “vencido” não ajuda porque reforça a visão de que estaria sem força.
Os parlamentares do centrão são pródigos em defender no gogó o corte das despesas em contraposição ao aumento de arrecadação. Mas, na hora H das votações, o que se vê é barganha para aprovar as medidas e pressão por mais emendas parlamentares com custo para as contas públicas.
Na negociação do pacote fiscal de Haddad, trabalharam para desidratar as medidas de maior aperto fiscal, enquanto ingenuamente alguns ainda acreditavam que os parlamentares iriam apertar as medidas.
Haddad tem repetido que a relação com Motta não poderia ser melhor. Os dois se aproximaram nos últimos tempos. Não é suficiente. Para sair do tiroteio, ele precisa buscar aliados. A começar pelos seus colegas ministros na Esplanada.
Fonte ==> Folha SP