17 de agosto de 2025

A ‘armadilha de Tucídides’, Donald Trump e o Brasil – 02/08/2025 – Opinião

A 'armadilha de Tucídides', Donald Trump e o Brasil - 02/08/2025 - Opinião

O tarifaço de Donald Trump pode ser interpretado sob a ótica da “armadilha de Tucídides”. É um conceito em geopolítica que explica a tendência a uma guerra quando uma potência emergente ameaça deslocar a potência dominante. O termo foi popularizado por Graham Allison, da Universidade Harvard, que analisou 16 casos históricos nos últimos 500 anos, dos quais 12 terminaram em guerra e 4 numa acomodação pacífica.

Inspirou-se em Tucídides (460 a.C.-400 a.C.), um historiador grego que, descrevendo a história da guerra do Peloponeso, mostrou como uma potência emergente (Atenas), ao desafiar o status quo do poder (Esparta), pode levar a um conflito. De fato, levou. Sua análise incluiu elementos como medo de perder a hegemonia, respostas nacionalistas e concorrência estratégica.

Um exemplo que terminou em conflito foi a Primeira Guerra Mundial, quando a ascensão da Alemanha como potência emergente ameaçou o domínio da Inglaterra. Um caso de acomodação pacífica foi quando os Estados Unidos ocuparam a dominância que anteriormente era da Inglaterra.

Atualmente, a ascensão da China desafiando o papel hegemônico dos EUA contém elementos presentes na “armadilha de Tucídides”. As tensões dos EUA com a China são claras e explícitas: tarifas, restrições tecnológicas e slogans nacionalistas de Trump ilustrando que os americanos não querem abrir mão de sua liderança global.

O tarifaço aplicado ao Brasil pode ser interpretado como uma estratégia para golpear a China, dado a ligação entre o gigante asiático e o nosso país. Somos um dos maiores fornecedores de matérias-primas para os chineses. Assim como o nosso maior volume de importações é de lá, em especial da indústria de transformação.

Parte dos itens importados são insumos utilizados nas exportações industriais brasileiras. Prejudicando essas exportações, estaria prejudicando as importações desses insumos chineses. A Embraer fornece insumos para a fabricação e a manutenção de aviões na China. Muitas empresas chinesas operam aqui em finanças, infraestrutura e energia. O governo brasileiro está estudando, inclusive, incentivos para a montadora chinesa BYD.

O Brasil participa ativamente do Brics, que tem muita influência da China. No semestre passado, sediou a reunião no Rio de Janeiro. Apesar de ainda incipiente, sua importância está crescendo. Ilustrando: o IFC (Corporação Financeira Internacional), o braço financeiro do Banco Mundial, tem um patrimônio de US$ 39 bilhões. Já o banco de desenvolvimento do Brics, o NDB, tem um patrimônio de US$ 100 bilhões.

Sistemas de pagamentos em moedas locais, em que as transações são feitas sem passar pelo dólar, já são utilizados com parceiros do Mercosul há mais de uma década. O Pix é mais um avanço nessa direção. O Brasil tem expertise que deve compartilhar com outros parceiros comerciais do bloco.

As tarifas comerciais impostas ao Brasil podem ser interpretadas como um elemento de contenção da China sob a ótica da “armadilha de Tucídides”.

O que fazer? Tentar negociar, lembrando que o Brasil é um elo fraco neste conflito entre as duas maiores potências do mundo.

TENDÊNCIAS / DEBATES

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Fonte ==> Folha SP

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