14 de setembro de 2025

A baixa produtividade do trabalho – 13/09/2025 – Samuel Pessôa

A imagem mostra uma linha de montagem em uma fábrica de automóveis. Vários carros em diferentes estágios de montagem estão alinhados, com trabalhadores realizando tarefas em cada veículo. O ambiente é industrial, com equipamentos e ferramentas visíveis ao redor. Há também estruturas metálicas e prateleiras com peças e componentes.

Uma hora trabalhada no Brasil produz 20% da hora trabalhada nos EUA. Qual o motivo da diferença? Trinta anos atrás, não saberia dizer. Hoje, o conhecimento acumulado pela academia é imenso. Grosso modo, há os fatores embutidos nas pessoas e a ineficiência induzida pelo entorno.

Os fatores embutidos nas pessoas estão associados às habilidades cognitivas e socioemocionais que elevam a produtividade do trabalhador e do empresário. Tratei desse tema há três semanas. As habilidades embutidas nas pessoas explicam metade da baixa produtividade do trabalho no Brasil relativamente aos EUA.

A outra metade deve-se ao entorno. O elemento mais importante, hoje sabemos, é a má alocação dos fatores de produção. No Brasil, a estrutura tributária, principalmente, subsidia pequenas empresas pouco produtivas e tributa as grandes empresas mais produtivas. Temos que encontrar forma menos distorcida de financiar nosso Estado de bem-estar.

Vários estudos documentam que a diferença entre o Brasil e o México, por exemplo, e um país de renda elevada, quando olhamos a produtividade de um setor, não está nas fábricas mais eficientes do Brasil ou do México. Estas são tão eficientes quanto as melhores dos países ricos.

A diferença por aqui é que inúmeras empresas ineficientes operam no mesmo setor, convivendo com as mais eficientes.

Esse mesmo fato se revela quando olhamos o ciclo de vida das plantas. Nos países ricos, e para um mesmo setor, as empresas mais antigas são também maiores, isto é, têm mais trabalhadores. As menos eficientes nasceram e morreram. O capital e trabalho lá alocados foram para as mais eficientes. Nos países de renda média esse processo não ocorre. Consequentemente, não há, como ocorre nos países ricos, uma correlação positiva entre a idade de uma planta e seu tamanho.

O ideal é que após a plena operação da nova reforma tributária, que simplificará muito a tributação sobre a atividade produtiva, nós caminhemos para eliminar os regimes tributários especiais, tanto o Simples quanto as empresas do lucro presumido.

Também há evidências recentes de que a gestão das empresas nos países de renda média é, na média, pior. Os motivos que geram este resultado não são bem conhecidos.

Um dos fatores que têm sido identificados está associado à carência de capital humano: nos países de renda média, a média gestão das empresas é relativamente mais cara do que nos países ricos. Isso pode explicar em parte a dificuldade de crescimento das empresas.

Finalmente, o custo de capital é mais elevado no Brasil. Dificulta muito a vida da indústria manufatureira, setor de capital intensivo. Há inúmeras evidências de que a mobilidade internacional do capital gera uma fortíssima força na direção de igualar os retornos do capital livre de risco. No entanto, para o Brasil há um prêmio na média elevado em investir, e a mobilidade não elimina este prêmio.

No Brasil, hoje a maior fonte de risco é a sustentabilidade fiscal. No passado, isto é, até 2006 aproximadamente, era a fragilidade externa. Alguém poderia dizer: “mas nossa dívida é denominada em moeda doméstica, qual é o risco?”. O problema é que a dívida pode ser paga por meio de aceleração da inflação, o que gera desorganização da economia e inviabiliza um ciclo de crescimento sustentável. Tratei deste tema na coluna de duas semanas atrás.

Para reduzir o custo de capital, temos que elevar a poupança doméstica.



Fonte ==> Folha SP

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