19 de julho de 2025

A bela e o aracnídeo – 19/07/2025 – Ruy Castro

A bela e o aracnídeo - 19/07/2025 - Ruy Castro

Pode ter começado com o “King Kong” de 1933, mas daí nunca mais parou: filmes com bicharocos gigantes que ameaçavam cidades, megalópoles e quiçá o mundo —aranhas, lagartos, polvos, morcegos, caranguejos, escorpiões, coelhos mutantes, formigas radioativas, bolhas assassinas e até minhocas e louva-deus. O apogeu do gênero foi nos anos 1950, em que, por causa da energia atômica, pobres seres inocentes e inofensivos na vida real surgiam, de repente, ampliados para ocupar a tela inteira, a fim de destruir a humanidade.

Todos esses filmes eram produções B dos estúdios idem de Hollywood, como então a Universal. Os atores eram do terceiro time e a fórmula, invariável: o herói (um biólogo ou repórter), a mocinha (sempre uma deslumbrante cientista), uma população em pânico e, claro, o monstro. Um dos clássicos do gênero foi “Tarântula” (1955), dirigido pelo especialista Jack Arnold. O monstro-título era um pavoroso aracnídeo, capaz de abraçar uma casa com suas pernas cabeludas e quase impossível de matar. Mas o melhor do filme era Mara Corday, 25 anos, quase sósia de Ava Gardner, no papel de uma bela matemática. Seus gritos, ao se ver sozinha com o monstro no deserto, ecoaram por décadas nas salas de projeção.

Mara morreu em fevereiro na Califórnia, aos 95, e estava tão esquecida que isso só foi divulgado há poucos dias. Depois de sobreviver aos répteis e insetos mais terríveis, sua carreira entrou em eclipse. O mesmo aconteceu com Julia Adams, paixão do monstro da Lagoa Negra, e Beverly Garland, a favorita dos crocodilos e sucuris. Nunca foram cogitadas para os papéis que iam para Bette Davis.

Mara teve, pelo menos, uma modesta volta crepuscular. Em “Tarântula”, o piloto do avião que bombardeia o bicho com o letal napalm era o estreante Clint Eastwood. A estrela Mara foi gentil com ele. Vinte anos depois, poderoso como ator e diretor, Clint deu-lhe papéis mínimos, mas dignos, em vários de seus filmes.

Só que, a salvo da tarântula, ela não era tão deslumbrante.



Fonte ==> Folha SP

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