Há algumas semanas, na Cidade do México, fiz um discurso para a Sociedade Mont Pèlerin, da qual sou a atual presidente. Na esquerda, ela é vista como uma conspiração de conservadores. Mas na verdade é uma conversa bastante aberta de liberais essenciais —não conservadores. Conversamos sobre o que leva à liberdade.
Sim, é uma conferência privada, embora não secreta. E, sim, habitualmente concluímos, com base na lógica e nas evidências, que a liberdade não é bem servida pelo socialismo de Estado. Mas certamente é melhor discutir esses assuntos em vez de sacar armas ou fabricar teorias da conspiração obscuras sobre as pessoas das quais você discorda.
O tema da conferência foi “Liberdade nas Américas: reconstruindo os fundamentos da prosperidade”. Para uma gringa monolíngue, seria presunçoso fingir que sabe exatamente o que é melhor para o florescimento humano ao sul da fronteira. Esse tipo de presunção é típico dos economistas anglo-americanos desde a Guerra. Não é de admirar que o Banco Mundial e o FMI fiquem em Washington.
Você sabe que eu acho que a grande liberdade, sem coerções estatais, foi o que causou o Grande Enriquecimento de 1776 até hoje. A evidência esmagadora, argumentei em muitas de minhas maravilhosas contribuições científicas —que exorto você a estudar como faria com a Bíblia ou “O Manifesto Comunista”—, é que o liberalismo, e não a ciência, o Iluminismo, o investimento ou a escravidão, nos tornou muito ricos e razoavelmente virtuosos.
Mas nem sempre acreditei nisso. Quando estudante de pós-graduação em Harvard, nos anos 1960, fui assistente de pesquisa de um projeto para assessorar o governo colombiano em seu sistema de transporte. Como uma jovem economista típica, eu sabia tudo sobre análise de insumo-produto, custo-benefício, política fiscal keynesiana, planejamento central. Mas na época eu sabia tanto sobre a verdadeira base da prosperidade para a Colômbia quanto sabia a língua espanhola: nada. Eu era uma estatista, e Harvard deveria ditar as regras.
O que eu não sabia então, mas a sociedade sabia desde sua fundação, em 10 de abril de 1947, à sombra do monte Pèlerin, perto de Genebra (Suíça), é que a liberdade causa o florescimento. A engenharia de humanos de cima para baixo não funciona. Ou, mais exatamente, funciona, perversamente, para transformar cidadãos adultos em crianças dependentes —a caminho da servidão, como disse certa vez um economista não anglo.
O que sabemos, como disse outro presidente da sociedade, James Buchanan, não é engenharia, mas constituições. Mas mesmo Jim pode ter sido um pouco construtivista demais. Aprendemos com os velhos e novos ataques ao liberalismo que a boa política depende não tanto das instituições quanto dos sentimentos morais que as sustentam. “Adicione instituições e mexa”, observei, não é receita de prosperidade. Se pessoas maliciosas assumirem o controle de um país, por golpe ou voto, nenhuma estrutura institucional, como a Constituição americana ou a brasileira, pode ajudar. Não muito.
Então, senhoras e senhores, tudo se resume às fontes da moralidade —nossas mães, professoras e, acima de tudo, nossos amados amigos em liberdade, reunidos em Porto Alegre ou na Cidade do México.
Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves
Colunas e Blogs
Receba no seu email uma seleção de colunas e blogs da Folha
Fonte ==> Folha SP