À frente do PT, Edinho terá missão de construir reeleição e preparar partido para o pós-Lula

Edinho Silva foi eleito presidente nacional do PT nesta segunda-feira (7), após processo eleitoral interno do partido marcado por uma confusão no diretório estadual de Minas Gerais. Candidato de Lula, Edinho comandará o partido até 2029. Ele concorreu com o ex-presidente do partido Rui Falcão e com dois fundadores da sigla, o historiador Valter Pomar e o sindicalista Romênio Pereira.

Em publicação na noite de segunda-feira, o partido anunciou os votos obtidos pelos candidatos. Edinho ficou com 73% dos votos, sendo a escolha de 239 mil filiados. Rui Falcão ficou em segundo lugar, com 11% dos votos.

Os números todos os estados do país, exceto Minas Gerais, que teve a votação suspensa por questões judiciais. A eleição no estado acontecerá no próximo domingo (13). O contingente de filiados do partido no estado, porém, é menor do que a diferença de votos entre Edinho Silva e Rui Falcão, o que garantiu matematicamente a presidência ao escolhido de Lula.

Para Mayra Goulart, doutora em ciência política e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a vitória de Edinho demonstra coerência entre as lideranças do partido e as autoridades eletivas, que têm mandato. “O Edinho era o candidato de Lula e dos principais deputados e incumbentes do PT. Há uma coerência na cúpula que conduz o partido. É um partido que tem divergências internas, mas elas acabam sendo dirimidas em confluência com a ação dessa cúpula.”

O cientista político Rudá Ricci, presidente do Instituto Cultiva, vai além e considera que, mais do que popularidade entre os filiados do partido, a eleição de Edinho “demonstra um domínio total de Lula em relação a qualquer tipo de possibilidade de oposição”.

O presidente não declarou apoio público a Edinho, mas especialistas apontam que ele seguirá sua linha. Os dois são próximos – é com Edinho que Lula estava, em Araraquara, no 8 de janeiro – e apostam na conciliação. Esse foi um elemento de crítica do seu principal adversário na disputa, Rui Falcão, que argumentou que o partido deveria retornar às suas bases.

Para o cientista social Paulo Nicolli Ramirez, a missão de Edinho será exatamente conciliar e construir novas alianças para o PT com vistas às eleições de 2026. Será ele o responsável por organizar uma possível tentativa de reeleição de Lula: “A depender das pesquisas e dos índices de aprovação do atual presidente, Edinho vai tentar articular alianças com os partidos tradicionais de centro, com a intenção de formar maioria para o próximo governo, sabendo, obviamente, de todos os riscos e problemas, tais como os que enxergamos no atual mandato de Lula”.

Além disso, aponta Ramirez, Edinho deverá entender como transferir a imagem de Lula, às vésperas de sua última participação eleitoral, “para a própria identidade do partido, de modo que se possam consolidar novas lideranças com a mesma força e carisma de Lula para que o PT continue competitivo nas eleições”.

Para Ricci, porém, essa missão pode desenhar um descolamento do PT de sua militância e do programa do partido – isto é, de suas bases históricas e dos trabalhadores. “De alguma maneira, esse tipo de vitória tão avassaladora acaba sugerindo a possibilidade de uma certa promiscuidade entre a direção do partido e o governo desse partido”, ele analisa. Edinho é representante do Construindo Novo Brasil (CNB), a corrente majoritária dentro do PT que remonta ao início da institucionalização da sigla e que, dentro da estrutura partidária, se posiciona mais à direita e tem como foco a disputa de espaços políticos.

“Se essa hipótese se confirma”, Ricci sugere, “a CNB começa a forjar um tipo de dirigente que é quase um gestor da máquina pública. Em outras palavras, a CNB está forjando dirigentes que são profissionais da política. Eles vivem da política, e não apenas dentro do partido, mas diretamente do Estado como governantes. A trajetória de Edinho é exatamente essa: prefeito, ministro e assim por diante”.

Edinho Silva foi coordenador da vitoriosa campanha de Lula em 2022, função que invariavelmente passará por sua mesa como presidente da sigla, e antes disso atuou como tesoureiro da campanha de reeleição de Dilma Rousseff, em 2014. O agora presidente do partido também foi prefeito de Araraquara (SP) por quatro vezes, entre 2001 e 2008, e entre 2017 e 2024. Ele também atuou como ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom) do segundo governo Dilma.

Ricci considera que essa vitória pode “transformar o Partido dos Trabalhadores em um partido de gestores públicos, de profissionais da política”. Isso não é necessariamente ruim, ele aponta, mas consolida uma mudança no comportamento do partido – a mesma criticada por Rui Falcão. “Qualquer dirigente sabe que precisa de governabilidade, e isso orienta a concepção programática e de prática política. Cada vez mais, o PT vai se distanciando dos trabalhadores e de sua vida cotidiana”, analisa



Fonte ==> Brasil de Fato

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