A falta de divulgação dos resultados de alfabetização da principal avaliação nacional já causava estranhamento havia algum tempo. Em agosto do ano passado, o MEC e o Inep, órgão responsável pela produção dos dados, divulgaram os resultados gerais da avaliação nacional, o Saeb, para as séries avaliadas, mas os dados do 2º ano do ensino fundamental ficaram pendentes, com a promessa de que viriam depois.
Em 27 de março, a Folha noticiou que o Inep teria barrado a publicação dos dados do 2º ano do Saeb, de acordo com o ofício a que o jornal teve acesso. A justificativa é que haveria erros amostrais que demandam mais estudos. Em nota publicada no dia 2 de abril, a Associação dos Servidores do Inep defendeu a legitimidade dos dados e afirmou que os dados estariam prontos para divulgação.
Diante da repercussão, o ministro Camilo Santana determinou que os dados fossem divulgados. No fim da tarde desta quinta-feira (3), o Inep realizou uma coletiva de imprensa para a divulgação dos microdados, ressaltando que as margens de erro dos resultados subnacionais foram mais elevadas que o aceitável.
A justificativa para o atraso na divulgação, relacionada a erros amostrais, traz questionamentos sobre a confiabilidade de outras coletas amostrais realizadas pelo Inep. Quando o atraso foi noticiado, a primeira suspeita era a de que os resultados seriam ruins. Mas o problema pode ser mais complexo do que apenas dados negativos; afinal, evidências de baixa alfabetização não seriam surpreendentes.
Outra suspeita para a resistência na divulgação é que haveria uma divergência entre o Saeb e o Índice de Criança Alfabetizada, o ICA, que passou a ser usado em 2024, com os dados de 2023, e que o MEC desde então prioriza. O ICA é construído por meio de uma parametrização das avaliações realizadas de forma independente pelos estados.
De fato, os dados do Saeb 2023 divulgados pelo Inep nesta quinta apontam que 49,3% das crianças brasileiras estão alfabetizadas, valor abaixo dos 55,9% indicado pelo ICA 2023, mesmo considerando a margem de erro.
Os dados das duas fontes, Saeb e ICA das avaliações estaduais, precisam ser explorados para entender a origem das discrepâncias. Uma vez que ambos utilizam a mesma linha de corte em relação ao que caracteriza um aluno alfabetizado, as avaliações deveriam mostrar resultados semelhantes, especialmente quando observadas em uma perspectiva comum de territórios.
O atraso na divulgação dos dados não contribui para a melhoria das políticas públicas. A ausência de explicações técnicas e detalhadas apenas alimenta especulações, prejudicando a reputação das instituições. É essencial manter o compromisso com a transparência, para não colocar em risco a credibilidade do Inep e garantir a continuidade da produção de dados cruciais para o desenvolvimento e aprimoramento das políticas educacionais no país.
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Fonte ==> Folha SP