18 de outubro de 2025

A Riqueza Invisível da Poesia

Fui uma criança muito curiosa e teimosa. Algumas vezes sentimental demais e, por inúmeras vezes, muito distraída. Por volta dos meus cinco anos, talvez um pouco antes, minha mãe lia pequenas histórias para mim e meu irmão. Eram livrinhos compactos que vinham de presente no jornal local, e lembro claramente que ficava manuseando-os e recontando a história, para os amigos imaginários que rondavam meu universo infantil.

            Como havia dentro de mim um desejo muito grande de escrever, em qualquer papel que me era dado eu fazia “minhoquinhas” e acreditava que havia escrito um grande texto. Por essa época nossa família fez uma viagem e ficamos seis meses em Portugal. Apesar de bem pequena, lembro que essa mudança não foi muito boa. Eu chorava muito e sentia imensa saudade da minha avó materna que ficara no Brasil.

            Na década de 60 não havia internet, ligações por vídeo, tampouco as chamadas telefônicas eram rápidas ou por meio de aparelhos celulares. A comunicação entre pessoas distantes era feita por cartas, e tenho até hoje a coleção de pequenos bilhetes que enviei para a vó Hilda – repletos de “minhoquinhas”, e que minha mãe traduzia com paciência.

            Meu desejo de escrever, aprender a juntar letras, era maior do que outros interesses. Perturbei muito minha mãe, até que ela me ensinou as vogais e a escrever meu nome; com isso, passava os dias replicando a novidade. Nos idos de 1967, só se podia entrar no primeiro ano escolar quando se tinha sete anos completos; então, fiz a pré-escola para, finalmente, ter contato com a cartilha – a velha e boa “Caminho Suave” e aprender a juntar B com A.

            Fui uma aluna normal, nenhum gênio, mas fui alfabetizada com certa rapidez e então podia escrever muito. Como era criança, descobri um jeito de escrever muito: passava horas copiando textos no caderno de caligrafia, o que garantiu que minha letra, sem modéstia nenhuma, ficasse muito bonita e, enquanto fazia horas de cópias, não atazanava a paciência de todos com peraltices.

            Um dia descobri um tesouro!

            Minha mãe tinha vários cadernos de capa dura com pequenas frases, pensamentos de autores famosos gravados neles. Ao longo de sua juventude, ela colecionou esse tesouro, e eu, por volta dos dez anos, tive meu primeiro contato com fragmentos de clássicos. Ficava horas lendo e achava aquilo maravilhoso.

Como alguém podia deixar uma ideia completa em praticamente uma frase?

De alguma forma acendeu em mim o desejo de contar muita coisa de uma maneira diferente. Algum tempo depois ganhei meu primeiro diário e meu mundo mudou completamente.

Agora eu podia escrever sem que ninguém lesse. Podia expressar sentimentos sem medo e conversar comigo mesma sem críticas, o que ajuda bastante no processo de criação. (A pessoa deixa seus medos e vergonhas e apenas cria. Sou adepta de diários até hoje, principalmente como forma de extravasar sentimentos, autoterapia e começar na escrita.).

Assim a poesia entrou na minha vida, na escola. Aos poucos, mas para sempre!

As redações na escola começavam cedo. A partir do segundo ano, tínhamos aula e prova de redação. Nunca reprovei, mas mantenho a característica até hoje. Meus textos são curtos. O que acabou sendo uma bênção na faculdade de jornalismo – onde o lema é “textos curtos e grossos e uma dificuldade no mestrado para criar um artigo científico”. Mas sobrevivi!

Os primeiros textos feitos em uma tentativa de poesia foram na escola, durante as aulas de literatura. Sou péssima em métrica, mas adorava aquela cadência e quebra de linhas que traziam sentimentos e, por vezes, me faziam chorar. Foi ali que comecei a fazer meus primeiros versos. Alquebrados, sem muita forma, às vezes rimados, outras não, sem contagem de sílabas, mas que me encantavam e faziam com que eu tivesse mais vontade de escrever.

Nosso amor (1976) – Meu primeiro poema

Quando me apaixonei por ti

Eras um garoto e eu…

Uma menina

Hoje, um pouco mais crescida

Sei que te amo e você…

Nem se lembra de mim

Nem olha para mim

Mas, não faz mal,

Porque de qualquer maneira

Vou sempre continuar te amando

Tudo era motivo para dividir com o papel, mas, claro, aos 13 anos o tema principal eram os amores platônicos. Ainda tenho meus primeiros versos. Não são bons, mas tenho orgulho deles; se não existissem, eu não estaria aqui escrevendo este artigo.

A minha produção sempre ficou escondida. Nem minha família sabia que eu escrevia. Ela só passou a ter mais acessos quando conheci meu marido. Ele também escrevia e trocávamos muitas ideias. Durante o tempo de casada, não precisava mais esconder e, logo depois que fiquei viúva, em 1995, minha produção se expandiu sobremaneira. A internet era uma novidade. Aprendi a criar sites em HTML e criei então meu primeiro blog, que existe até hoje, o “Poetando com Helena”. Meu filho mais velho era bebê, e eu tinha muito tempo à noite para criar, publicar e mostrar ao mundo.

Depois precisei dar uma parada em várias coisas. Nunca parei de escrever, mas era hora de cuidar mais da família, voltar a estudar e modificar a empresa.

O tempo do curso de Mestrado foi um salto. Aprendi a ler cirurgicamente, aprendi como se faz um artigo científico, fui alvo de zoação – afinal, poetas não combinam com negócios – será mesmo? Mas vamos deixar isso para o próximo tema. Entretanto, a minha escrita amadureceu muito. Meu desejo de publicar um livro aumentava exponencialmente a cada ano. Do sonho de menina no travesseiro, ele queria tornar-se real, mas havia muito medo de não dar certo, das críticas: era um mundo totalmente desconhecido e novo.

Quando completei 50 anos, uma chave virou em minha alma. Meio século. Ou eu colocava meu sonho para virar realidade ou ele morreria para sempre. Então, comecei a fazer pequenos “livros- homenagens”. O primeiro foi “Meu herói de verdade ou 70 anos bem vividos” – um breve relato da vida do meu pai e foi dado como lembrancinha, por ocasião do seu septuagésimo aniversário. Foi um sucesso entre os amigos dele e, claro, um estopim para minha centelha interior. Seis meses depois, fiz um para uma amiga, depois para minha mãe, para meus filhos. Comecei a compilar meus poemas em pequenos livretos para dar aos meus amigos, e as coisas começaram a tomar vida própria.

Em 2017, uma amiga me apresentou uma editora de autopublicação, e lancei meu primeiro projeto independente, extramuros, “Ser Feliz é uma escolha” – coletânea com 50 poemas que abordam temas do cotidiano. Um marco. Vendi 200 livros no lançamento e a edição inteira de 500 volumes em pouco mais de um ano. A partir desse marco, já escrevi mais de 30 livros. Publiquei e lancei 12 fisicamente e agora começo a engatinhar no mundo digital. Este mês virei Best-seller em três categorias, com o livro “Aconchego”, na Amazon.

Escrever é meu Flow. É o momento em que desligo. Crio. Nada importa, apenas as letras, o papel e os sentimentos. A criatividade não tem limite. A cura de muitas dores e a terapia dos momentos mais sombrios. Os poemas cantam em meu coração. Fazem a alma sentir-se aliviada. É uma maneira única de compreender o sentido de Deus em minha vida.

A poesia me transformou em alguém rico de conteúdo. Uma buscadora de tesouros, autores, formatos, sentimentos, experiências que deixam minha alma cada vez melhor e mais profunda.

Meu convite é para que você também seja rico em poesia. Nesse mundo tão material, uma moeda feita de amor, sentimento e delicadeza transforma tudo ao nosso redor. Comece hoje lendo um poema e faça disso um presente para seu mais profundo eu.

Vento – Poema do Livro Aconchego – página 27

            Vento amigo, leva para ele

            minha mensagem…

            Vento amigo, conta pra ele

            que meu amor não tem fim…

            Vento amigo, canta no ouvido dele

            minha mais doce melodia…

            Vento amigo, leva-o até uma praia distante,

despe-o de seus medos

e conta pra ele

que a vida é maravilhosa…

            Vento amigo, despe minh’alma,

            me ensina a voar contigo,

            me mostra que o caminho é o mais fácil

            e que nem sempre sei chegar a ele…

            Vento amigo, faz com que nossas almas

            se encontrem num furacão

            e que a praia seja nosso cenário

            de amor…       

            Vento amigo…

HELENA FRAGA

Jornalista de formação e empresária do setor automotivo desde 1989.

Gosta de ler e escreve desde os 13 anos.

Escrevi mais de 30 livros e publiquei de forma independente doze volumes.

Criou em março de 2025 o Projeto Poesia Presente – objetivo disponibilizar mensalmente um e-book gratuito com textos e interatividade. Até o momento já foram ao ar Quaresma: Perdão e Reconciliação (fevereiro/março); Coletânea de Poemas (abril); Mãe Sublime (maio); Amor com gosto de festa (junho)

Palestrante – Desperte a escritora dentro de você

Membro Oficial da Rede Sem Fronteiras; Academia de Letras de São Vicente; Elos Clube Internacional de São Vicente; Clube dos 21 Irmãos Amigos de São Vicente

Participou de várias Coletâneas.

Prêmio Camões do concurso da Rede Sem Fronteiras 2024 – 1º Lugar na categoria miniconto
Prêmio Concurso Sem Fronteiras pelo mundo vol. 8 – 2º lugar na categoria prosa

Autora homenageada pela Rede Sem Fronteiras na Feira do Livro de Lisboa 2025

Ama a vida, os altos e baixos que ela tem e, principalmente, a capacidade de ser fênix e de aceitar a resiliência como forma de acreditar no ser humano.

Livros publicados:-

– Ser feliz é uma escolha – Poesia – 2017

– Hoje e Sempre – Poesia – 2019

– Alma de Mulher – Poesia – 2020

– A Grande Travessia – Uma vida de fé, garra, amor e determinação – Biografia – 2021

– Retalhos – Poesia – 2021

– Transforme-se – Textos motivacionais e contos – 2022

– Aconchego – Poesia – 2023

– O Livro de Natal – Temático – 2023

– As Aventuras de Jonny & Anita – O Mistério do Bolo de Natal – Infantil 2021

– As Aventuras de Jonny & Anita – A Máquina do Tempo – Infantil – 2022

– Alianças: amor e esperança – Temático – Homenagem aos 65 anos de casado dos meus pais

– Navegando na Poesia – Poesia – 2025

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