16 de outubro de 2025

Acabou a ordem internacional. E agora, Brasil? — Brasil de Fato

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
(…) Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?”

(Carlos Drummond de Andrade, “José” IN: Poesias, 1942)

Em entrevista a uma TV brasileira, horas após o ataque ilegal e não provocado dos EUA às instalações nucleares iranianas, o ex-ministro das relações exteriores do Brasil, ex-ministro da defesa e atual assessor especial da presidência para assuntos internacionais, Celso Amorim, decretou, em tom agitado, incomum para sua personalidade: “Acabou a ordem internacional! Seja do ponto de vista do comércio, seja do ponto de vista da paz e segurança. Vamos ter de nos adaptar a isso, e não vai ser fácil.” 

Quando lançou essa sombria reflexão ao vivo na TV, Amorim não imaginava que o Brasil seria uma das próximas vítimas do “fim da ordem internacional”. Dias depois do criminoso ataque ao Irã, no primeiro dia da Cúpula do Rio, Trump ameaçou os países membros do Brics com tarifas extras de 10% caso estes se envolvessem em supostas “iniciativas anti-estadunidenses”, sem esclarecer de que iniciativas se tratava.

O ataque trumpista garantiu manchetes em todo o mundo para uma cúpula cuja importância vinha sendo questionada pela mídia corporativa ocidental, que costuma subestimar o grupo, sobretudo pela ausência de alguns dos principais chefes de estado, como Xi Jinping, Vladimir Putin e Masoud Pezeshkian. Mas, para vários analistas, a ameaça da Trump foi um sinal de que os avanços do Brics – ainda que limitados – preocupam a Casa Branca.

Dois dias após o fim da cúpula, Trump voltou seu “canhão tarifário” para Brasília. Apesar de os EUA terem obtido um superávit com o Brasil de cerca de US$ 410 bilhões nos últimos 15 anos – o que desarma o argumento recorrente de que Washington está impondo tarifas para reverter déficits comerciais –, Trump impôs tarifas de 50% sobre os produtos brasileiros.

A esta altura, porém, já está claro que Trump está usando as tarifas para atacar o presidente Lula e o Supremo Tribunal Federal (STF), em um cálculo que leva em conta as eleições presidenciais de 2026. Washington também invocou a Lei Magnitsky, que prevê sanções a indivíduos ligados ao tráfico de drogas e terrorismo, para punir alguns membros do Supremo Tribunal Federal do Brasil.

O presidente dos EUA expôs as principais razões para seu ataque ao Brasil: ele exige que Lula suspenda o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, condenado a 27 anos de prisão por organizar uma tentativa de golpe de Estado em janeiro de 2023, como se a presidência tivesse autoridade sobre o STF.

Trump também acusa o STF de desrespeitar a “liberdade de expressão” de empresas e indivíduos estadunidenses, uma vez que o Judiciário brasileiro tem buscado legitimamente regulamentar as plataformas de redes sociais. Em ambos os casos, o ministro do Supremo Alexandre de Moraes está liderando o processo e se tornou o maior alvo das sanções estadunidenses. Há também rumores de que Trump estaria buscando atingir os principais países do Brics para enfraquecer o grupo e estaria de olho na segunda maior reserva de terras raras do mundo, localizada no Brasil. Esses ataques teriam, portanto, o objetivo de abrir negociações com o governo brasileiro sobre questões que ainda não foram divulgadas.

Trata-se do maior ataque público dos EUA à soberania brasileira, pois transcende o conflito comercial e faz uso das tarifas como arma política para interferência nos sistemas político, judiciário e financeiro do país. Na prática, Washington impôs sanções ao Brasil. Inacreditavelmente, a articulação de tais ataques contou com a participação pública do deputado federal Eduardo Bolsonaro – filho do ex-presidente – que fugiu para os EUA com medo de ser processado e tem se reunido com autoridades do entorno de Trump para conspirar contra o próprio país. Essa manobra estadunidense convocou a uma mudança de rumo da política externa brasileira e obrigou o presidente Lula e o Itamaraty a reposicionarem-se diante do cenário geopolítico global. 

Por que o Brasil ainda não voltou para o palco central da geopolítica?

O retorno de Lula da Silva ao poder em 2023 gerou uma grande expectativa da retomada da ousadia que caracterizou sua política externa nos dois primeiros mandatos. Logo após ser eleito em outubro de 2022, Lula anunciou: “O Brasil voltou”, querendo dizer que estávamos de volta ao jogo da política global. Contudo, isso não vinha acontecendo até agora, por diversas razões.

Em primeiro lugar, vivemos um cenário global cada vez mais turbulento, com a escalada dos ataques ocidentais contra a China e a Rússia – por meio de sanções, guerra midiática e uma guerra quente –, o genocídio perpetrado pelos sionistas na Palestina, e apoiado pelos EUA, além de uma profunda polarização política na América Latina e no Caribe com a ascensão da extrema direita – fortemente conectada aos interesses de Washington. Um cenário muito diferente dos governos Lula e Dilma Rousseff (2003-2016).

A política externa do terceiro mandato de Lula foi apelidada de “não alinhamento ativo” e buscava marcar uma “equidistância” entre as duas maiores potências globais, EUA e China. Ela vinha se caracterizando por 1) postura defensivo-reativa e passos cautelosos, 2) incapacidade – até agora – de liderar uma efetiva reorganização das duas principais plataformas regionais (Unasul e Celac) que Brasília ajudou a criar nos anos 2000, 3) uma tímida participação no Brics – do qual havia sido protagonista nos primeiros anos de sua existência – e 4) uma dificuldade de propor parcerias estratégicas que trouxessem benefícios econômicos e políticos para o Brasil.

A maior aposta do governo, até então, tem sido o Acordo de Livre Comércio Mercosul-União Europeia, que inúmeros analistas sérios no país – como Paulo Nogueira Batista Jr. – já demonstraram que beneficiará muito mais a indústria europeia do que as economias do Mercosul e, sobretudo, prejudicará os esforços de reindustrialização do Brasil. Em inúmeras declarações públicas, o governo sempre insiste na “importância geopolítica” desse acordo, mas costuma se esquivar de debater seu caráter econômico, no mínimo, controverso. Até mesmo o ministro da economia, Fernando Haddad, já afirmou que não vê grandes vantagens econômicas no acordo.

Há outros elementos objetivos e subjetivos que explicam a mudança de caráter da política externa brasileira de “Lula 3”. Comecemos pelos subjetivos. Diferente dos mandatos anteriores de Lula e Dilma Roussef (2003-2016), nos quais o PT – inclinado à integração latino-americana e à construção do Brics – possuía um peso maior na direção do governo, o atual mandato de Lula se constituiu como uma “frente ampla” para derrotar a extrema-direita nas eleições de 2022, incluindo partidos de centro-direita com ligações econômicas e preferências ideológicas pelos EUA e Europa.

Além disso, o presidente Lula não conta mais com dois brilhantes quadros de sua política externa no passado: Marco Aurélio Garcia, assessor especial de relações internacionais da presidência (mesmo cargo atual de Celso Amorim) e Samuel Pinheiro Guimarães, ex-secretário-geral do Itamaraty, ambos falecidos recentemente. Marco Aurélio tinha uma vantagem importante: não era um quadro do Itamaraty, então podia atuar como “alguém de fora”. Em situações politicamente mais complexas, tinha mais autonomia para atuar. Ele foi secretário de Relações Internacionais do Partido dos Trabalhadores por muito tempo – contava com a total confiança de Lula e Dilma – e carregava consigo uma vasta rede de relações políticas, especialmente na América Latina.

Ainda temos Celso Amorim, conhecido como exímio negociador, um dos arquitetos da formação do Brics e hoje um dos protagonistas não só da política externa brasileira, mas de todo o Sul Global. No entanto, o “trio dos sonhos” – comandado pelo chanceler Amorim no passado – faz falta na construção da estratégia do presidente Lula, e em sua operação cotidiana.

E quanto aos aspectos objetivos das mudanças da política externa de Lula 3?

Não se faz política externa só com o gogó

Por seu caráter de maior potência regional, representando cerca de 40% da economia da região, a prioridade da política externa brasileira só pode ser a integração da América Latina e Caribe. Por isso, durante os governos de Lula e Dilma, Brasília dedicou muita energia à articulação da Unasul e da CELAC, uma alternativa à Organização dos Estados Americanos, controlada por Washington há décadas e que serviu de instrumento legitimador de inúmeros golpes de estado apoiados pelos EUA. Um dos elementos que possibilitou a CELAC foi a afinidade político-ideológica da chamada “onda rosa” dos governos progressistas da América Latina dos anos 2000: Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, Venezuela, Bolívia, Equador e Cuba formaram um bloco hegemônico, que ajudava a trazer governos mais à direita, como Chile, Colômbia e México.

Mas política externa não se faz só com discursos e afinidades ideológicas, é preciso materialidade. Por isso, o Brasil contribuiu com recursos significativos para a política de integração latino-americana e caribenha. Fomos responsáveis por uma espécie de “mini Nova Rota da Seda avant la lettre”, com uma metodologia similar àquela que a China viria a executar de forma tão bem-sucedida anos depois (com cem vez mais recursos). Ou seja, tratava-se de uma política externa extremamente inovadora no Sul Global.

Por um lado, entre 2007 e 2015, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) foi responsável por mais de US$ 10 bilhões em financiamentos de projetos de infraestrutura em inúmeros países da região (Argentina, Venezuela, Peru, Uruguai, República Dominicana, Equador, Cuba, Guatemala, México, Paraguai, Honduras, Costa Rica) — além de Angola, Gana e Moçambique. Por outro lado, portos, ferrovias, aeroportos, estradas, gasodutos, metrôs, eram todos construídos pelas grandes construtoras brasileiras. Dessa forma, o Brasil não apenas pregava a integração, mas a praticava, melhorando a infraestrutura da região, ao mesmo tempo em que acumulava capital político e garantia lucros para suas empresas.

Mas foram justamente essas construtoras – além da Petrobrás, a maior estatal brasileira – os maiores alvos da Operação Lava Jato, que investigou casos de corrupção e causou um terremoto político no Brasil, resultando na prisão de inúmeros políticos e empresários, criando as condições para o golpe parlamentar da presidenta Dilma Rousseff e a prisão do presidente Lula e sua exclusão das eleições de 2018, para a qual era favorito. Sob pretexto do combate à corrupção — o que ninguém pode ser contra —, e articulada com a grande mídia corporativa, a Lava Jato, ao invés de somente punir os diretores e donos das mega construtoras brasileiras, resolveu destruir aquelas empresas que eram instrumentos estratégicos tanto para a economia brasileira, como para sua política externa. 

Passado o tsunami político, e com inúmeras investigações ainda em andamento, hoje é plenamente documentado que a Lava Jato — sob liderança do então juiz e hoje senador Sérgio Moro — foi um instrumento de lawfare, que contou com a direção e apoio do FBI e do Departamento de Justiça dos EUA, atendendo aos interesses imperialistas de Washington.

A política externa brasileira, “altiva e ativa”, que começava a elevar o Brasil a uma inédita liderança na região, e o projetava globalmente como protagonista da ascensão do Sul Global, desagradou profundamente à Casa Branca, que vê a região como seu quintal. Se, por um lado, as construtoras brasileiras, que já ganhavam a concorrência com seus pares estadunidenses, foram destruídas, por outro, o BNDES precisava ser neutralizado. Quando assumiu a presidência após o golpe contra Dilma, o vice-presidente Michel Temer enviou projeto para o Congresso Nacional proibindo o BNDES de financiar projetos no exterior. Ficava assim inviabilizada, juridicamente, a continuidade da “mini Nova Rota da Seda” brasileira, dando adeus à materialidade da política externa de Lula e Dilma.

Fomos alvo de uma das maiores operações de guerra híbrida da história, operada pelo governo Obama-Biden, que nos custou muito caro, econômica e politicamente. Na política, abriu espaço para a ascensão da extrema-direita e a eleição de Jair Bolsonaro em 2018, absolutamente subserviente aos interesses de Washington, simbolizado na famosa cena em que o ex-presidente bateu continência para a bandeira estadunidense. Bolsonaro devastou o estado brasileiro com sua política hiper neoliberal e o Brasil se tornou um anão na política externa. Para Washington, missão cumprida. Mas note-se que levou anos – e o hackeamento de uma conta de Telegram do chefe dos procuradores da Lava-Jato – para que se tornasse evidente o envolvimento dos EUA na Operação Lava-Jato. Nesse sentido, a política externa democrata Neocon se mostrou sofisticada e eficiente, ao contrário da atual estratégia trumpista, que não disfarça sua vocação imperialista. 

O tiro no pé de Trump e a virada da política externa brasileira

A recente ofensiva de Trump contra o Brasil mudou completamente as peças do tabuleiro brasileiro. A defesa da soberania nacional — e das instituições brasileiras — virou um ponto de honra para o governo e Lula passou a apostar em discursos quase cotidianos de enfrentamento às agressões estadunidenses. Em um dos seus discursos mais contundentes, disse que “Trump foi eleito para ser presidente dos EUA, ele não foi eleito para ser imperador do mundo”. Poucas coisas deixam Lula mais à vontade politicamente do que um adversário para confrontar. Desde então, sua popularidade, que vinha caindo lentamente, voltou a subir, no Brasil e no mundo.

Foi capa do New York Times, como “o homem que está enfrentando Donald Trump”. Brasília, que vinha tentando manter uma certa “equidistância” entre EUA e China, e preferia não apostar tantas fichas no Brics como no passado, passou a ter uma postura muito mais proativa e reaproximou-se do grupo que ajudou a fundar em 2009. O Brics parece estar voltando a ser prioridade do governo de novo. Lula fez inúmeros telefonemas a Xi, Putin e Modi e articulou uma rara cúpula online do grupo para discutirem respostas aos ataques da Casa Branca.

Apesar das exportações brasileiras para os EUA só representarem hoje 12% do nosso comércio internacional, eles são ainda o maior destino de nossas manufaturas e nossa maior fonte de Investimento Estrangeiro Direto, com quase 30% do estoque total de investimentos. Trump diminuiu de 50% a 10% as tarifas de cerca de 700 produtos, incluindo suco de laranja, celulose, fertilizantes, aeronaves e suas peças (da Embraer) e produtos metalúrgicos intermediários. Segundo estimativas do governo, apenas cerca de 36% das exportações brasileiras serão afetadas pela tarifa máxima. Por um lado, Brasília mantém a linha de propor negociações com Washington.

Após a “química” do breve encontro de Lula e Trump na ONU, seguido de inúmeras negociações de bastidores, em canais formais e informais, o presidente estadunidense parece ter recuado e deve se reunir com Lula em breve. Na disputa interna em Washington, o pragmático homem de negócios que tem a confiança de Trump, Richard Gellner, parece ter ganhado temporariamente a queda de braço com o truculento secretário de estado Marco Rubio, que vê Lula como um adversário ideológico. Por outro lado, a ordem agora é acelerar a diversificação das parcerias econômicas, para diminuir a influência dos EUA. Como disse Celso Amorim recentemente, “a diversificação é o novo nome da independência”. O Brasil aumentou suas exportações para a China e busca se aproximar de outros parceiros do Brics. 

No final de outubro, Lula deve fazer uma inédita visita de estado à Indonésia e, em seguida, participar, pela primeira vez, da Cúpula da ASEAN, na Malásia. Aliás, lá pode acontecer a reunião com Trump. Segundo uma fonte, que testemunhou a visita de estado do presidente indonésio Prabowo Subianto dois dias após a Cúpula do Rio de Janeiro, houve um “match” entre ambos e a parceria entre a sétima e a oitava maiores economias do mundo (pela paridade do poder de compra) poderia deslanchar após essa visita. Nas últimas semanas, o Brasil também anunciou importantes acordos econômicos com o México, fruto de uma visita de vários ministros liderados pelo vice-presidente Geraldo Alckmin à segunda maior economia da região, que também vem sofrendo ataques dos EUA. Lula também foi convidado à Índia e deve visitar Narendra Modi em fevereiro, mercado uma aproximação inédita com Nova Delhi – a quem cabe a presidência do Brics no ano que vem. Aliás, somente a Índia recebeu tarifas (ou sanções) e ataques públicos de autoridades estadunidenses tão agressivos quantos os do Brasil, por comprar petróleo russo (algo que a UE, a China e a Turquia também fazem, sem, no entanto, serem punidas pela Casa Branca). O rapprochement entre Nova Delhi e Pequim foi, até agora, a mais relevante consequência dos ataques estadunidenses ao seu histórico parceiro sul-asiático.

Na dinâmica atual da disputa geopolítica cada vez mais acirrada, quando Trump parte para o ataque a outros países, ele enfraquece os setores da elite local aliados aos EUA e fortalece os setores cujos interesses se ligam à China, à Rússia, ou ao Brics. Trata-se de um movimento semelhante ao ocorrido na China (desde 2017) e na Rússia (desde 2014 e, mais ainda, desde 2022), no qual setores locais pró-Ocidente se viram enfraquecidos graças às agressões estadunidenses. Por isso, quando Trump iniciou a “Guerra Comercial” e inaugurou as primeiras sanções contra o setor de alta tecnologia do país asiático (Huawei e ZTE) em seu primeiro mandato, ele ganhou um apelido na China.

Tal ofensiva mostrou ao governo e ao povo chinês que os EUA deixavam de ser um parceiro confiável, começavam a se tornar um adversário e que, portanto, era preciso acelerar o desenvolvimento tecnológico do país, que não poderia mais depender de produtos de alta tecnologia de empresas estadunidenses, como os chips, por exemplo. Os chineses passaram a chamá-lo de Chuan Jiàn Guó. Chuan é a pronúncia chinesa para Trump, Jiàn significa “construtor” e Guó é “nação”. Ou seja, “Trump, construtor da nação”…chinesa! 

Será que os ataques atuais do presidente dos EUA ajudarão a construir a nação brasileira, ou mesmo o Brics? Como dizia uma frase atribuída a Napoleão, “não se deve interromper um inimigo quando ele está cometendo um erro”. Porém, os desafios do Brasil para a retomada de uma política externa “altiva e ativa” ainda são enormes, conforme mencionado acima. Por exemplo, seria necessário reconstruir nossa capacidade de financiar e construir projetos de infraestrutura na América Latina e no Caribe. Com tamanha polarização política na região, a integração econômica terá um papel ainda mais importante, e talvez seja a única forma realista de retomar o fio histórico interrompido da integração regional.

O presidente Lula já enviou um projeto de lei ao Congresso para que o BNDES possa retomar o financiamento de projetos no exterior. No entanto, as outrora poderosas construtoras brasileiras ainda não se recuperaram e agora terão que competir com suas contrapartes chinesas. Acima de tudo, nos falta um projeto nacional popular, capaz de selar um pacto estratégico entre setores da elite interessados na reindustrialização do país e setores populares, mediados por um estado que seja capaz de liderar um projeto de desenvolvimento soberano.  

Ao fim e ao cabo, independente do resultado das eventuais negociações entre Brasil e EUA, o poderoso discurso do presidente Lula na 80° Assembleia Geral da ONU fez ecoar no mundo inteiro uma frase perturbadora: “Ali (em Gaza), sob toneladas de escombros, estão enterradas dezenas de milhares de mulheres e crianças inocentes. Ali também estão sepultados o Direito Internacional Humanitário e o mito da superioridade ética do Ocidente”. Que política externa brasileira (e do Sul Global) vai surgir diante dessa verdade irrefutável? Essa talvez seja a pergunta geopolítica mais importante do século 21.

 *Marco Fernandes é membro do Conselho Popular do Brics, analista geopolítico do Brasil de Fato, editor da revista Wenhua Zongheng Internacional. Mora em Moscou.
**Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato



Fonte ==> Brasil de Fato

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