19 de outubro de 2025

Agro ganharia R$ 6,4 bilhões ao ano com melhores estradas rurais

Agro ganharia R$ 6,4 bilhões ao ano com melhores estradas rurais

O agro brasileiro poderia ter um ganho econômico de até R$ 6,4 bilhões por ano apenas com a redução de custos de transporte, caso fossem melhoradas aas condições das chamadas estradas vicinais – vias não pavimentadas que ligam zonas rurais entre si ou com centros urbanos. O montante representaria cerca de 1,1% do valor adicionado do setor no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.

Os cálculos fazem parte de um estudo produzido e lançado recentemente pelo Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-Log) a pedido da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

De acordo com o levantamento, o Brasil tem cerca de 2,2 milhões de km de estradas vicinais, por onde circula anualmente 1,4 bilhão de toneladas de produtos do agro, incluindo a agricultura, a pecuária e o setor florestal.

O custo total do transporte por meio dessas vias (incluindo combustível, manutenção, insumos, mão de obra etc.) chega a R$ 16,2 bilhões anuais, mas boa parte desse valor poderia ser reduzida com investimentos na adequação das estradas.

Com um padrão de qualidade médio, poderiam os gastos poderiam ser reduzidos em R$ 2,7 bilhões por ano (-16,9%), o equivalente a 0,5% do valor adicionado pelo agronegócio. Já se o padrão de qualidade fosse alto, o montante economizado chega aos R$ 6,4 bilhões (-39,7%).

“Isso chama bastante atenção, do quanto que tem de dinheiro na mesa de recursos que estão sendo desperdiçados pela má qualidade da infraestrutura de vicinais no país para o setor da agropecuária”, diz o engenheiro agrônomo Thiago Guilherme Péra, coordenador geral da Esalq-Log.

Do ponto de vista ambiental, também haveria ganhos. O atual sistema de estradas vicinais tem contribuído para a emissão de 3,07 milhões de toneladas de CO2 por ano, de acordo com estimativas dos pesquisadores.

Com um padrão de qualidade médio das vias, haveria uma redução de 384 mil toneladas emitidas (-12,5%), ao passo que o padrão superior elevaria o ganho ambiental para 1 milhão de toneladas de carbono a menos na atmosfera (-32,9%).

Entre os segmentos mais afetados pela precariedade das estradas vicinais, o maior impacto é na cadeia da cana-de-açúcar, que poderia reduzir os custos operacionais com transporte em até R$ 2,4 bilhões por ano.

Na sequência vêm a produção de milho e soja, com R$ 2,1 bilhões, e a produção animal, com R$ 865,5 milhões. O setor florestal tem perdas estimadas em até R$ 318,5 milhões anuais com as más condições das vias estudadas.

Estudo identifica estradas com maior prioridade para investimento para o agro

Para identificar quais estradas demandam mais urgência em manutenção e recuperação, os pesquisadores desenvolveram um indicador próprio, chamado de Índice de Priorização das Estradas Vicinais (Ipev).

O Ipev leva em consideração uma série de fatores, em quatro dimensões: social, econômica, ambiental e de infraestrutura. Estão incluídas entre as variáveis para o cálculo do indicador:

  • o valor adicionado das estradas para o agro;
  • o número de empreendimentos rurais;
  • o preço médio do diesel na microrregião;
  • a quantidade de matrículas rurais per capita;
  • a densidade do emprego rural;
  • a pluviosidade;
  • o balanço hídrico;
  • a qualidade das estradas vicinais;
  • o percentual de estradas vicinais em relação ao total de rodovias; e
  • a densidade da malha vicinal.

“Precisamos investir em todas as microrregiões? Olha, se tiver, sim. Mas tem como priorizar. A ferramenta demonstra essa priorização”, diz Péra.

Das 557 microrregiões brasileiras, foi identificada alta prioridade para 177, pelas quais passam cerca de 1,1 milhão de km de estradas vicinais. Em outras 98, que abrangem 421 mil km, a prioridade é considerada média, enquanto nas restantes há menor urgência na melhoria das condições das vias.

Investimento em estradas altamente prioritárias seria de R$ 4,9 bilhões por ano

O estudo divide as estradas vicinais entre “terciárias”, mais largas e que fazem a ligação com rodovias estaduais ou federais, e “não classificadas”, que costumam permitir a passagem de apenas um veículo e ligam propriedades às estradas terciárias.

Para adequar 177 mil km de estradas terciárias em regiões altamente prioritárias seriam necessários R$ 4,9 bilhões por ano, com um custo anual de manutenção de R$ 35 mil por km.

“O investimento de R$ 4,9 bilhões por ano para adequar as estradas vicinais a um padrão mínimo de qualidade não é apenas viável, é estratégico”, diz Elisangela Pereira Lopes, assessora técnica da Comissão Nacional de Logística e Infraestrutura da CNA.

“Estamos falando de um valor que representa menos de um terço do prejuízo anual (R$ 16,2 bilhões) causado pelas más condições dessas vias, apenas em custos operacionais.”

Para adequar todos os 367 mil km de estradas terciárias ao padrão mínimo, o custo seria de R$ 10 bilhões por ano, enquanto a elevação de qualidade de 101 mil km de estradas vicinais do padrão “ruim” para “superior”, nas regiões altamente prioritárias, demandaria R$ 12,6 bilhões. O custo para manutenção nesse patamar é de R$ 131 mil por km/ano.

Em março deste ano, equipes da CNA e a da Esalq-Log visitaram oito microrregiões nos estados de Bahia, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará e Paraná para conhecer em campo alguns trechos e confirmar a metodologia do estudo.

Foram percorridos mais de 1,2 mil km de estradas vicinais e entrevistadas 150 pessoas ligadas ao agro, entre produtores rurais e secretários municipais de infraestrutura e agricultura. Nos locais foram identificados problemas como buracos, erosões, ondulações, atoleiros, acúmulo de água e pontes precárias.

Entre os entraves administrativos constatados estão orçamento público limitado, extensão elevada da malha e falta de mão de obra técnica qualificada para execução das obras.

Investimentos necessários em melhoria de estadas vicinais por estado

O estudo aborda o panorama de cada estado brasileiro, de modo a subsidiar parlamentares em ações voltadas a seus redutos, considerando o Ipev.

Considerando o custo total anual necessário para adequação e manutenção das estradas vicinais, Minais Gerais lidera o ranking de prioridade para investimento, seguido por Paraná e Rio Grande do Sul.

Com uma extensão de 128 mil km de estradas com alta prioridade, o estado mineiro teria de investir anualmente R$ 2,67 bilhões em adequação e manutenção para atingir o padrão mínimo de trafegabilidade.

O estado paranaense teria de investir R$ 2,64 bilhões por ano em 136 mil km de vias com alta prioridade. Para o Rio Grande do Sul são estimados R$ 2,59 bilhões para 134 mil km. Na sequência dos maiores investimentos demandados vêm os estados do Pará, Mato Grosso, Bahia e Goiás.

Considerando as microrregiões nas diferentes unidades federativas, lideram a lista de alta prioridade para investimento em estadas vicinais Alto Teles Pires (MT), Sudoeste de Goiás (GO), Entorno de Brasília (GO), Dourados (MS),/ Barreiras (BA) e Altamira (PA).

Confira o estudo completo aqui.



Fonte ==> Gazeta

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