A presidente da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), Bruna Benevides, criticou a recente declaração do novo papa, Leão XIV, que afirmou que “a união real de uma família” é entre um homem e uma mulher. A fala, afirma, representa um retrocesso frente aos esforços por igualdade e reconhecimento legal das uniões homoafetivas no Brasil e no mundo.
“O direito ao casamento e ao reconhecimento legal das uniões estáveis é um direito assegurado no Brasil, e felizmente a opinião do papa não vai mudar isso”, relembrou Benevides em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato. Para ela, a fala do pontífice não só reforça liturgias “arcaicas e retrógradas”, como também fere tratados internacionais de direitos humanos. “Não é a opinião que garante o direito, mas sim os argumentos e as necessidades reais da nossa comunidade”, defendeu.
A dirigente também alertou para os riscos de discursos religiosos que, segundo ela, se alinham a interesses políticos e econômicos que tentam inviabilizar o avanço de políticas públicas. “A instituição igreja funciona da mesma forma que a política institucional, tem diversos interesses patrocinados. […] A sociedade precisa estar atenta e defender o Estado laico”, pontuou.
Brasil ainda é perigoso para pessoas LGBTQIA+
Apesar da imagem internacional de país acolhedor, o Brasil continua sendo o mais violento para a população LGBTQIA+, segundo Bruna Benevides. A presidente da Antra apontou o machismo estrutural e o avanço de setores reacionários como elementos centrais da violência. Em 2024, o Grupo Gay da Bahia registrou 291 mortes violentas de pessoas LGBTQIA+, um aumento de 8% em relação ao ano anterior.
“O país que se vende como progressista ainda é extremamente violento com quem se desvia da norma”, afirmou Bruna. Para ela, há uma tentativa de normalizar a discriminação, enquanto o Estado segue omisso. “A comunidade LGBTQIA+ está lutando pelo direito de viver, amar e existir plenamente.”
A dirigente também criticou o governo Lula (PT) por não avançar na implementação de políticas públicas específicas, como a atualização da Política Nacional de Saúde Integral da População LGBTQIA+. “Estamos no terceiro ano de governo e não há diálogo efetivo com o Ministério da Saúde. O governo Lula ainda segue no armário quando se trata da defesa da nossa comunidade como um todo”, denunciou.
Parlamentares trans fazem revolução
Apesar dos retrocessos, Benevides ressaltou a importância das recentes conquistas políticas. Ela destaca que a eleição das parlamentares Erika Hilton (Psol-SP) e Duda Salabert (PDT-MG) é resultado de um projeto político que vem sendo construído há décadas. “Não se trata de um fenômeno, lutamos ativamente por isso desde 1992. Estamos ocupando espaços para mostrar que também fazemos parte da sociedade”, explica.
Ela também pontuou que essas parlamentares não atuam apenas em pautas de identidade de gênero e sexualidade, mas estão comprometidas com temas estruturais como justiça social, mobilidade urbana e direitos de todas as mulheres. “É uma revolução positiva, transformadora, um processo que vai contribuir para o Brasil avançar cada vez mais naquilo que tem se chamado de reconstrução e união.”
Na véspera do Dia Internacional de Combate à LGBTfobia, a presidente da Antra reforça que a luta não deve se restringir ao 17 de maio. “Todos os dias devem ser dias de enfrentamento à discriminação. A minha existência não fere o direito de ninguém — ela ajuda a construir um futuro melhor para todo mundo”, observa.
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Fonte ==> Brasil de Fato