Em sua ofensiva diuturna contra instituições capazes de frear seu voluntarismo ideológico, Donald Trump intensificou o assédio ao Federal Reserve, o Fed, como é conhecido o banco central americano.
O republicano, na busca por autoridade ilimitada, pretende dar cabo da autonomia do Fed por meio do controle da maioria dos cargos de sua direção ou por intimidação, como o faz com o chefe do órgão, Jerome Powell, cujo mandato vai até maio do próximo ano —note-se que Powell assumiu o posto, em 2018, por indicação do próprio Trump, durante seu primeiro governo.
Desta vez, a Casa Branca demitiu uma diretora do conselho da autoridade monetária, acusada de modo informal de cometer fraude em financiamentos imobiliários —uma decisão que será contestada na Justiça.
Caso tenha sucesso, o presidente americano terá nomeado 4 dos 7 integrantes do colegiado. Assim, poderá no mínimo influenciar a escolha dos 12 dirigentes regionais do Fed. Deste grupo, 5 se juntam aos 7 do conselho para formar o comitê que toma decisões sobre a taxa de juros.
No próximo ano, portanto, Trump poderá contar com uma maioria de votantes indicados por sua ordem ou pressão. Não é certo que a nova composição vá seguir cegamente os caprichos do líder populista, mas é no mínimo ingênuo acreditar que sua autonomia ficará incólume.
De imediato, o republicano parece interessado em queda forçada da taxa básica de juros. O objetivo seria o de estimular a atividade econômica e reduzir encargos da crescente dívida pública.
O banco central americano, porém, também tem funções regulatórias e é responsável por empréstimos de última instância, que podem evitar quebras no setor financeiro e enfrentar crises econômicas profundas.
A autonomia do Fed tem história conturbada. A instituição era sujeita a pressão política direta ainda nos anos 1960 e 1970. Agora, corre risco de regressão institucional desastrosa para os Estados Unidos e o mundo.
A experiência global ensina que submeter a política de juros às conveniências do governante de turno é prática nefasta que, cedo ou tarde, resulta em descontrole da inflação. Como se vê, no entanto, até países desenvolvidos estão sujeitos a retrocessos.
No Brasil, o Banco Central ganhou certa autonomia informal após o Plano Real, de 1994, e formal apenas em 2021 —sem deixar de sofrer pressões no período, especialmente nas gestões petistas.
No primeiro mandato de Dilma Rousseff (2011-2015), os juros foram reduzidos à base de voluntarismo. Neste terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, a instituição, quando sob direção nomeada pelo antecessor, foi submetida a ataque público não muito diferente do promovido por Trump nos EUA.
Aqui, ao menos, o processo de troca de comando do BC não alterou a austeridade monetária antes tão criticada pelo governo.
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Fonte ==> Folha SP