Há um ano, uma enchente histórica devastava o Rio Grande do Sul em 2024, atingindo quase todos os municípios do estado. A tragédia provocou a morte de 183 pessoas e deixou 27 desaparecidas. As cidades da Região Metropolitana e do Vale do Taquari foram as mais impactadas. Milhares de casas foram destruídas e, até hoje, muitas famílias seguem sem moradia adequada.
Em entrevista ao Conexão BdF, do Brasil de Fato, Alexania Rossato, da Coordenação Nacional do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), denunciou que, embora o governo federal tenha destinado bilhões de reais para a reconstrução do estado, ainda há muitas pendências, especialmente em relação às moradias. “Não podemos sonegar o papel do governo federal no esforço da reconstrução, foram destinados bilhões de reais ao estado, mas para as famílias atingidas ainda falta muito. As moradias são o principal problema e estão longe de ser resolvidas”, afirma.
O MAB propõe o reassentamento de famílias em áreas mais seguras, como nas regiões altas, onde o rio não chega, e reforça a urgência das reformas em casas atingidas em cidades como Canoas e Porto Alegre. “Com o sistema de proteção funcionando, como esperamos que aconteça, é preciso garantir essas reformas”, defende. No pico das inundações no ano passado, o rio Guaíba atingiu a marca de 5,37 metros na capital gaúcha. Na ocasião, o sistema ‘anticheias’ não teria funcionado como deveria.
Para reapresentar as pautas dos atingidos às esferas federal, estadual e municipal e pressionar os governos, o movimento organiza uma grande manifestação marcada para o dia 15 de maio. Nesta semana, integrantes do MAB protocolam demandas diretamente nas prefeituras de Canoas e Porto Alegre.
Houve avanços pontuais, como na cidade de Estrela, onde a prefeitura cedeu uma área para reassentar famílias, mas ainda há muitas denúncias de negligência.
No bairro Sarandi, um dos mais atingidos pela enchente em Porto Alegre, por exemplo, casas foram demolidas sob pressão da prefeitura, que exigia assinaturas de autorização em troca de auxílio-aluguel ou inclusão em programas de compra assistida. De acordo com Rossato, porém, as medidas não têm funcionado no ritmo necessário. “Esses trâmites são demorados e as famílias não têm informações suficientes para agilizar o processo de acesso aos seus direitos. O que se pede é chave por chave: autorizo a demolição da minha casa, mas preciso entrar imediatamente em outra”, explica. Graças a uma liminar da Justiça, as demolições estão suspensas até que a situação das famílias seja resolvida.
O reconhecimento de quem tem direito à reforma ou nova moradia também é um obstáculo. Em cidades como Lajeado, mesmo famílias que tiveram casas completamente inundadas ficaram de fora do cadastro de atingidos por critérios locais restritivos. “Os conceitos de atingidos são definidos por cada prefeitura. Lá, só são reconhecidas famílias que tiveram casas arrastadas, ou seja, muito próximas ao rio. É um problema que se repete na região metropolitana de Porto Alegre”, denuncia a coordenadora.
Desde a tragédia, o MAB tem atuado em frentes de solidariedade e organização popular, especialmente por meio das cozinhas solidárias. “Foram elas que nos abriram as portas para chegarmos até as comunidades que foram duramente impactadas. Não tínhamos organização de famílias em Canoas, por exemplo, e hoje já temos mais de 400. A solidariedade é um princípio do nosso movimento, mas esse esforço nos fez também organizar as famílias do movimento”, observa Rossato.
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Fonte ==> Brasil de Fato