20 de abril de 2025

As alternativas do Brics para facilitar as transações financeiras entre seus membros – Mundo – CartaCapital

As alternativas do Brics para facilitar as transações financeiras entre seus membros – Mundo – CartaCapital

A cada novo anúncio sobre tarifas de importação – e foram muitos desde seu retorno à Casa Branca –, Donald Trump tenta reafirmar a posição inegavelmente privilegiada dos Estados Unidos no comércio global.

Não poderia ser diferente: desde a assinatura dos acordos de Bretton Woods, durante a Segunda Guerra Mundial, o sistema monetário internacional tem no dólar seu principal referencial. Décadas depois, no início dos anos 1970, a contestação à hegemonia norte-americana levou Richard Nixon a encerrar a conversibilidade do dólar em ouro, impulsionando ainda mais o valor da moeda.

As queixas sobre essa supremacia não são novas, mas o movimento do Brics – grupo formado por Brasil, China, Rússia, Índia e África do Sul, além de outros países em processo de adesão – para viabilizar transações financeiras fora da órbita do dólar irritou Trump. O republicano ameaça impor tarifas de 100% aos países que ousassem ignorar a moeda americana em seus negócios internacionais.

“Caso contrário, eles deverão dizer adeus às vendas para a maravilhosa economia dos EUA”, provocou o ex-presidente, em seu característico tom de deboche.

A elevação das tarifas a 100% não se concretizou, mas o tema segue vivo. E propostas para reduzir a dependência do dólar podem ganhar tração com a reunião da Cúpula do Brics, marcada para julho, no Rio de Janeiro.

Uma das alternativas em discussão envolve o uso da tecnologia blockchain – base das criptomoedas – para viabilizar pagamentos entre os países do grupo, facilitando o comércio interno, como já defenderam publicamente algumas autoridades.

De acordo com informações do jornal O Globo, o tema está sob análise do Banco Central do Brasil, com apoio do Ministério da Fazenda. Ainda assim, qualquer iniciativa nesse sentido exigiria um planejamento de longo prazo e precisaria ser ajustada para evitar atritos diplomáticos com os EUA.

As alternativas

Os esforços recentes para criar um sistema de transações entre os países do Brics seguiram diferentes caminhos. Inicialmente, cogitou-se a criação de uma moeda comum para o bloco – proposta já defendida por Dilma Rousseff, presidente do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), conhecido como Banco do Brics. Lula também manifestou apoio à ideia.

Na cúpula do Brics de 2023, na África do Sul, o petista argumentou que uma nova moeda poderia reduzir a dependência do dólar:

“O que nós queremos é criar uma moeda que permita que a gente faça negócio sem precisar comprar dólar […] Nós resolvemos criar uma moeda, porque isso facilita a vida das pessoas, mas não queremos pressa porque não é uma coisa simples de fazer”, afirmou.

O tema voltou à mesa em outubro, durante um encontro do Brics em Kazan, na Rússia, e recebeu o respaldo de Vladimir Putin. Mas, ao menos por ora, a proposta minguou. Mais recentemente, o embaixador Maurício Lyrio, representante do Brasil no bloco, adotou e descartou a criação de uma moeda própria:

“O que está sendo discutido são formas de reduzir os custos de operações comerciais e financeiras entre os países do Brics”, explicou.

Ainda assim, qualquer iniciativa para aumentar a cooperação financeira dentro do bloco pode ter impacto relevante: segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, o Brics representa 40% do PIB mundial em paridade de poder de compra, além de responder por 26% das exportações e 22% das importações globais.

O que muda na prática?

A criação de um sistema para facilitar o comércio e o fluxo de capitais entre os países do Brics esbarra em dois desafios principais. O primeiro é evitar que Trump use a iniciativa como justificativa para escalar ainda mais sua guerra comercial. O segundo envolve a segurança das transações.

É preciso diferenciar a criação de uma moeda comum da implementação de um novo sistema de pagamentos. Uma moeda própria serviria para transações entre os países, reduzindo a dependência do dólar, que hoje predomina por duas razões centrais: além de ser amplamente conversível, é reconhecida como uma reserva de valor segura no mercado global.

Já um sistema de pagamentos funcionaria como um meio para viabilizar transações entre agentes de diferentes países. Atualmente, as operações internacionais exigem intermediários para compensação entre contas bancárias, e o sistema mais utilizado para isso é o Swift, uma rede de comunicação financeira.

O Swift, em si, não impõe o uso do dólar, mas a moeda americana continua sendo a escolha dominante devido à sua estabilidade histórica.

No caso do Brics, a adoção de uma infraestrutura baseada em blockchain poderia servir como alternativa ao Swift. A proposta foi inicialmente apresentada em fevereiro de 2024, durante a reunião de ministros de finanças do bloco, realizada em São Paulo.

Se concretizada, a iniciativa pode representar um passo importante para o fortalecimento do Brics no cenário econômico global. Mas o caminho entre a intenção e a implementação segue repleto de obstáculos – tanto técnicos quanto geopolíticos.



Fonte ==> Casa Branca

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