10 de junho de 2025

As respostas objetivas e subjetivas que as igrejas oferecem à classe trabalhadora – Diálogos da Fé – CartaCapital

As respostas objetivas e subjetivas que as igrejas oferecem à classe trabalhadora – Diálogos da Fé – CartaCapital

De 2019 a 2023, o Instituto Tricontinental de Pesquisa Social se dedicou à Pesquisa Evangélicos, Política e Trabalho de Base, coordenada por Delana Corazza e por mim, visando compreender as respostas objetivas e subjetivas que as igrejas oferecem à classe trabalhadora, bem como aprofundar a temática da religiosidade dentro dos movimentos populares de base. Sendo o Instituto Tricontinental uma organização orientada pelos movimentos e organizações populares, nossa metodologia sempre buscou produzir conhecimento a partir das experiências e vivências da luta popular. E uma coisa sempre foi certa: é impossível falar da classe trabalhadora sem falar de religião.

Iniciamos a pesquisa vinculados às Brigadas do Congresso do Povo, começando em São Paulo, nos bairros onde militantes já atuavam e em igrejas locais. O trabalho foi contínuo, organizado e em diálogo com o entorno das igrejas, explorando dinâmicas territoriais, estratégias de conversa e avanços. Em Alagoas, Goiás e Mato Grosso do Sul, atuamos à distância e realizamos algumas formações presenciais. Com o fim do financiamento das Brigadas e os desafios políticos, fizemos adaptações, mas mantivemos o vínculo com os militantes desses estados. Parte dessa experiência foi relatada no texto Ciência Popular e Transformação Social, publicado na revista Estudos do Sul Global (RESG).

Durante a pandemia, intensificamos o contato com pesquisadores-militantes que atuavam diretamente nos territórios, fundamentais para colher dados do campo popular. Realizamos inúmeras entrevistas virtuais com militantes, evangélicos progressistas e evangélicos em disputa. Também nos aproximamos do Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores Por Direitos (MTD) do Distrito Federal, participando do coletivo Espiritualidade e Solidariedade, que resultou na publicação de textos, na organização de estudos bíblicos com referências progressistas e conservadoras do protestantismo para construir contranarrativas e, posteriormente, em formações nos territórios acompanhados pelo movimento. Esse processo evidenciou a importância do envolvimento prático e teórico dos pesquisadores-militantes diretamente comprometidos com o trabalho de base.

Para aprofundar esse debate, produzimos em conjunto com os movimentos a cartilha Resistir com Fé: os evangélicos e o trabalho de base, publicada em 2021. Ela é um ponto de partida essencial para quem atua nas periferias, considerando que 30% da população brasileira se identifica como evangélica. A cartilha resgata a historicidade dos evangélicos no Brasil, desmistifica preconceitos da esquerda e reconhece as igrejas como espaços de acolhimento e lazer, além de discutir as percepções mútuas entre esquerda e evangélicos.

Evidentemente, é impossível falar de evangélicos e política no Brasil sem considerar os fundamentalismos e opressões promovidos por alguns setores religiosos, inclusive no âmbito das políticas públicas. Para esse entendimento mais amplo, criamos um observatório mensal chamado “As Principais Notícias do Mundo Evangélico”, no qual, por quase dois anos, analisamos e refletimos sobre as notícias referentes ao universo evangélico. Esse Observatório foi fundamental para traçar paralelos entre o cotidiano dos cultos, o que aparece nos grandes meios de comunicação e nos espaços de poder. Além disso, elaboramos o Dossiê sobre o Fundamentalismo Religioso, fenômeno que ultrapassa o contexto brasileiro e se espalha por toda a América Latina, com raízes nos Estados Unidos: Fundamentalismo e Imperialismo na América Latina: Ações e Resistências.

Duas iniciativas contribuíram para refletir sobre fundamentalismo, fé, política e lutas sociais na América Latina e no Caribe. A primeira foi a parceria com o Centro Martin Luther King, em Cuba, que possibilitou o diálogo com protestantes cubanos, a escuta de suas reflexões e a troca de experiências em três encontros realizados com a Articulação Abya Yala — dois virtuais e um presencial. A segunda foi a pesquisa desenvolvida pelo Instituto Tricontinental em parceria com o coletivo Otros Cruces, investigando como pessoas de fé veem os direitos humanos e as lutas sociais em contextos populares na Argentina, Brasil, Chile e Honduras. O estudo resultou no livro Evangélicos e Política: Estudo sobre Espiritualidade e Movimentos Sociais na América Latina, publicado em português e espanhol e disponível gratuitamente para download.

Para quem deseja se aprofundar nos resultados e reflexões da Pesquisa Evangélicos, Política e Trabalho de Base, o site do Instituto Tricontinental oferece diversas discussões, materiais e publicações que contribuem para quem atua no trabalho de base, na disputa e na construção de uma espiritualidade comprometida com a justiça social.

A pesquisa não se encerra por completo, mas sim se expande ao se integrar à nova pesquisa do instituto: A Situação da Classe Trabalhadora no Brasil. O foco, agora, é compreender como a classe trabalhadora absorve ideias da classe dominante e como essas narrativas afetam suas formas de organização e resistência. Pretendemos evidenciar como a ideologia burguesa se torna hegemônica e de que maneira é apropriada e ressignificada no dia a dia. Em breve, lançaremos o primeiro informe dessa pesquisa, na qual a religião, claro, segue ocupando lugar de destaque.



Fonte ==> Casa Branca

Leia Também

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *