Num mundo onde respirar é uma das primeiras coisas que todo ser vivo aprende a fazer, a descoberta de um animal que vive sem oxigênio parece coisa de ficção científica. Mas é real.
Um grupo de cientistas encontrou um minúsculo parasita que habita os músculos de peixes como o salmão e que simplesmente não precisa respirar. Seu nome é Henneguya salminicola, e ele acaba de virar uma peça-chave para entender até onde a vida pode ir quando o assunto é adaptação.
Com menos de dez células, ele é parente distante das águas-vivas e dos corais. Durante milhões de anos, foi se modificando até abandonar por completo algo que parecia essencial: o uso de oxigênio para gerar energia.
Em vez disso, ele passou a viver de forma ainda mais simples, absorvendo diretamente os nutrientes do peixe hospedeiro. Mais curioso ainda, ele não possui mitocôndrias funcionais —aquelas estruturas conhecidas como “usinas de energia” das células.
Sem o genoma mitocondrial, que organiza a respiração celular, esse parasita joga por outras regras, numa espécie de atalho evolutivo que surpreendeu até os pesquisadores mais experientes.
Essa descoberta reescreve o que se pensava sobre os limites da vida animal. Por muito tempo, acreditou-se que todos os animais multicelulares precisavam de oxigênio para viver.
Afinal, era assim com tudo o que se conhecia. Mas o Henneguya salminicola mostra que a vida pode surgir e se manter mesmo em ambientes extremos, como o interior de tecidos corporais, onde o oxigênio é quase inexistente. Isso significa que as definições de vida precisam ser revistas. O que antes era considerado impossível, agora é apenas diferente.
E essa diferença tem implicações que vão muito além dos peixes. Ela se conecta com uma das maiores perguntas da humanidade: existe vida fora da Terra?
Durante décadas, as buscas por vida extraterrestre se concentraram em planetas que tivessem água, luz e oxigênio. Mas talvez, ao restringir essas condições, algo importante estivesse sendo deixado de lado.
Se aqui, em nosso próprio planeta, há um animal que vive sem oxigênio, por que em outro mundo, com condições ainda mais extremas, não poderia haver vida também? Talvez não como a conhecida, mas em formas ainda mais estranhas e improváveis.
A ciência tem mostrado que a vida sempre encontra um jeito. Em fontes hidrotermais do fundo do mar, em lagos ácidos, em desertos gelados —e agora, dentro de peixes, sem nem sequer respirar.
O Henneguya salminicola é pequeno, mas suas implicações são imensas. Ele representa uma quebra de paradigma e amplia os horizontes de onde e como a vida pode existir. No fundo, ele não é apenas um parasita desconhecido. É uma pista, talvez das muitas que ainda estão por aí, de que o universo pode estar mais vivo do que parece.
Fonte ==> Folha SP