25 de novembro de 2025

Carnaval do MST em SP celebra samba-enredo sobre reforma agrária e se transforma em festa pela prisão de Bolsonaro

Um dia de Carnaval já constava na agenda do Galpão Elza Soares, em São Paulo, que celebrou neste sábado (22) a primeira apresentação pública do samba-enredo da escola Acadêmicos do Tatuapé. Neste ano, o tema homenageia a luta pela reforma agrária e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). A festa se transformou em um evento histórico ao se misturar com a celebração que tomou conta do espaço após o anúncio da prisão preventiva do ex-presidente Jair Bolsonaro.

Ainda no início da tarde, dezenas de pessoas sambavam na roda conduzida pela Velha Guarda da Vai-Vai, Nenê da Vila Matilde, Camisa Verde e Branco e Acadêmicos do Tatuapé, que abriram o evento e embalaram o almoço servido pela cozinha do Armazém do Campo. Em diversos momentos, o público entoou canções que marcaram a campanha antibolsonarista, como o clássico “Vou festejar”, de Beth Carvalho.

Sambistas da Velha Guarda de diferentes escolas de samba embalaram o almoço no início do dia. Ao fim da apresentação, os músicos ganharam bonés do MST
Sambistas da Velha Guarda de diferentes escolas de samba embalaram o almoço no início do dia. Ao fim da apresentação, os músicos ganharam bonés do MST | Crédito: Nathallia Fonseca / Brasil de Fato

O militante Sebastião Araújo, do MST, integra o grupo responsável pelo Carnaval deste ano. Segundo ele, o evento reforçou o laço político com a festa. “Para a gente não é nenhuma surpresa a prisão do Bolsonaro, mas estamos felizes por ver, mais uma vez, a lei ser cumprida e fazer justiça com alguém que destruiu muito do que a gente tinha”, afirma. “Então hoje, mais do que nunca, o Carnaval é essa grande festa que nos une.”

Conhecido como Aranha, o militante foi um dos principais articuladores entre a escola de samba e o movimento sem-terra. Ele explica que o tema deste ano – “Plantar para colher e alimentar: tem muita terra sem gente, tem muita gente sem terra” – é fruto de um trabalho conjunto, engajado e afetivo. “Quando o pessoal da Acadêmicos nos mandou a letra final, todo mundo gostou, todo mundo se emocionou”, recorda.

Além do samba-enredo, o desfile da Acadêmicos do Tatuapé, marcado para 13 de fevereiro, no sambódromo do Anhembi, contará com alas inteiras compostas por militantes do MST com enxadas, facões, a bandeira do movimento e outras simbologias importantes da luta pela terra no Brasil. Segundo a organização da escola, a proposta é mostrar que “esse samba tem lugar”.

Cartaz que mostra Bolsonaro preso fez sucesso entre os que participaram da festa – Nathallia Fonseca/Brasil de Fato

Entre os que sambavam alegremente no galpão, estava o professor e sindicalista Marcio Pereira, que há 20 anos confecciona bandeiras criativas e conhecidas pelos protestos do campo democrático em São Paulo. Desta vez, ele exibia uma peça em 3D com grades e um Bolsonaro em miniatura por trás delas. O cartaz gerou interesse e risos de quem passava. “Eu recebi a notícia sobre a prisão dele, hoje, com muito alívio, porque a gente percebe que toda extrema direita usa essa estratégia de fugir e o movimento dele estava preparado para essa fuga”, diz. “Tinha tudo para ser o movimento de passar por cima do direito, mas felizmente o judiciário agiu”, comenta.

Parlamentares compareceram à festa

Somando-se ao público que se divertia na tarde deste sábado, políticos de esquerda também participaram do evento, em tom de celebração, e comentaram a prisão do ex-presidente.

Para o deputado federal Nilto Tatto (PT-SP), este é um dia em que se celebra, sobretudo, “a justiça sendo feita”. “Principalmente porque se trata de alguém que tentou acabar com a democracia, e a gente sabe o quanto a democracia é importante na implementação dos direitos e por tudo o que tivemos de retrocesso desde o golpe”, relembra. “A prisão de Bolsonaro é algo muito simbólico. É um presidente que a gente consegue colocar na cadeia por uma tentativa de golpe de Estado, então tem muita coisa aí que a gente precisa celebrar, destacar e cuidar com carinho para que não ocorra nunca mais”.

Na mesma linha, a vereadora Luna Zarattini (PT-SP) destacou a importância histórica da prisão de um ex-presidente por tentativa de golpe de Estado, marcada como a primeira vez em que esse crime é devidamente responsabilizado no Brasil. “Isso é histórico porque, na ditadura, não tivemos essa responsabilização – essas feridas ficaram abertas”, afirma.

Ela reforça ainda que “Bolsonaro, na sua simbologia de estar preso, também carrega sobre as costas as 700 mil vidas que foram embora por causa da omissão do Estado brasileiro durante a pandemia. O mesmo Bolsonaro que deixou as pessoas na fome, na fila do osso, que atacou a saúde, a assistência, a ciência e a cultura. Então hoje é um dia muito simbólico e deve lembrar a cada um de nós que precisamos seguir vigilantes”, diz.



Fonte ==> Brasil de Fato

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