27 de outubro de 2025

China e EUA avançam em consenso comercial antes de possível encontro entre Xi e Trump — Brasil de Fato

China e Estados Unidos alcançaram um consenso preliminar sobre questões comerciais estratégicas após dois dias de negociações em Kuala Lumpur, Malásia, conforme anunciou no domingo (26) o vice-primeiro-ministro He Lifeng, líder das negociações pelo lado chinês.

As delegações discutiram controles de exportação, a extensão da suspensão de tarifas recíprocas, incluindo às relacionadas ao fentanil, comércio de produtos agrícolas, e as medidas estadunidenses da Seção 301 impostas aos setores marítimo, logístico e de construção naval chineses.

As informações foram dadas por Li Chenggang, representante comercial internacional da China e vice-ministro do Comércio, em coletiva em Kuala Lumpur, após finalizadas as negociações.

Do lado dos EUA, as conversas foram conduzidas pelo secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, e o representante comercial, Jamieson Greer.

O consenso básico deve passar agora pela aprovação dos respectivos governos antes de uma possível reunião entre os presidentes Xi Jinping e Donald Trump em Seul, República da Coreia, na próxima quinta-feira (30).

A data foi anunciada pelo governo Trump. Ao Brasil de Fato, fontes do governo chinês disseram que ainda não há confirmação sobre o encontro.

A crise da soja estadunidense

O escoamento da soja se tornou um problema para a administração Trump. A commodity ficou mais cara para o mercado chinês em função das tarifas retaliatórias que o país asiático colocou em produtos estadunidenses.

Como resultado, a China reduziu significativamente a importação da soja dos EUA, substituindo-a com a brasileira e a argentina. Segundo a Associação Estadunidense de Soja, desde que a nova safra iniciou em 1º de setembro, a China simplesmente não comprou soja.

De acordo com dados da Administração Geral de Alfândegas da China, analisados pela reportagem, no período de janeiro a agosto deste ano, o valor das importações chinesas de soja geneticamente modificada dos EUA sofreu uma enorme queda.

O valor das importações em janeiro de 2025 foi de mais de US$ 2,28 bilhões (R$ 12,31 bilhões), mas em agosto de 2025 (último mês disponível), havia despencado para pouco mais de US$ 101,8 milhões (R$ 548 milhões), uma queda de 95,5%.

O secretário do Tesouro, que também é sojeiro, disse que “os produtores de soja ficarão extremamente felizes com este acordo para este ano e para os próximos anos”, dando a entender que haveria uma retomada das compras chinesas.

Terras raras

Após as negociações, Bessent confirmou ao canal estadunidense CBS que a tarifa extra de 100%, anunciada recentemente por Trump, e que entraria em vigor em 1º de novembro, ficou “efetivamente fora da mesa”.

Depois que a China implementou novos controles de exportação sobre tecnologias de terras raras, Trump anunciou “uma tarifa de 100% à China, acima de qualquer tarifa que eles estejam pagando atualmente”. Ele havia afirmado que, também a partir de 1º de novembro, seriam impostos “controles de exportação a todo e qualquer software crítico”.

Ainda sobre os controles de exportação de tecnologias referentes a terras raras, Bessent disse que discutiu com o vice-primeiro-ministro “uma ampla variedade de questões”, “desde as terras raras – dos ímãs de terras raras ao comércio, às compras substanciais de produtos agrícolas estadunidenses, até a ajuda chinesa nesta crise do fentanil que temos nos EUA”.

Sobre as terras raras, Bessent afirmou que a China recuou da imposição de controles de exportação devido à ameaça tarifária de 100% feita por Trump.

Porém, Pequim já havia implementado uma primeira medida restritiva no setor, e outras estão programadas para entrar em vigor em 8 de novembro.

Possível solução sobre a questão TikTok

Bessent também afirmou que houve um entendimento final sobre o TikTok, e que o acordo deveria ser anunciado na cúpula em Seul.

O governo Trump havia anunciado o banimento da rede social de origem chinesa, caso a ByteDance, empresa controladora do TikTok, não vendesse suas operações a uma empresa dos Estados Unidos. O atual governo norte-americano acusa a rede social de representar uma ameaça à segurança nacional por coletar dados de cidadãos, que poderiam ser acessados pelo governo da República Popular.

A acusação surgiu ainda durante o primeiro governo Trump, em 2019, com o então senador Marco Rubio, atualmente secretário de Estado, que pediu uma investigação da plataforma ao Comitê de Investimento Estrangeiro nos Estados Unidos.

Embora os termos do acordo não tenham sido divulgados oficialmente, o professor de Política Internacional, Universidade Fudan, Shen Yi, em artigo publicado no portal Guancha, afirma que deve ser criada uma joint venture americana chamada TikTok US Data Security (USDS) para gerenciar dados nos EUA. Nesta estrutura, investidores externos estadunidenses deterão a maioria das ações e assentos no conselho, mas a ByteDance manterá a posição de maior acionista individual, sem controle majoritário.

Ainda segundo Shen, o algoritmo permanecerá propriedade da ByteDance, que apenas licenciará seu uso à USDS mediante pagamento de royalties, com qualquer autorização dependendo de aprovação do Ministério do Comércio chinês.



Fonte ==> Brasil de Fato

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