Os três tiros disparados no sábado (7) contra o senador Miguel Uribe, pré-candidato de direita à Presidência da Colômbia, e os ataques armados ocorridos três dias depois em Cali expuseram o país ao risco de reviver a brutal violência política dos anos 1980 e 1990.
Embora as motivações e a autoria intelectual da tentativa de assassinato ainda não tenham sido esclarecidas, a polarização ideológica, além da onipresença dos interesses dos cartéis do narcotráfico e das guerrilhas, aponta para uma campanha eleitoral no mínimo tensa em 2026.
Ferido por dois projéteis na cabeça e um no joelho, o senador continua em estado crítico e dificilmente retomará a disputa pela candidatura do Centro Democrático, partido fundado pelo ex-presidente Álvaro Uribe.
O suspeito pelos disparos é um adolescente de apenas 14 anos de idade, que foi preso a cerca de 350 metros do local do atentado, após ser baleado na perna por seguranças do pré-candidato. Na ocasião, confessou que cometeu o crime porque precisava do dinheiro para ajudar a família; na terça (10), porém, declarou-se inocente, segundo a agência AFP.
O presidente Gustavo Petro condenou o atentado, mas, em sua primeira manifestação sobre o caso, nem sequer citou o nome do senador, o que foi duramente criticado pela oposição.
A animosidade no cenário político colombiano vem escalando nos últimos anos, e o primeiro governo esquerdista do país, que chegou ao poder em 2022, tem contribuído para o fenômeno.
Com dificuldades para aprovar regulações trabalhistas, previdenciárias, da Justiça e do sistema de saúde, Petro, que tem índices modestos de popularidade, incita protestos populares em seu apoio com discurso persecutório. Em 2024, chegou a propor uma Assembleia Constituinte para alcançar seus objetivos.
O presidente também falhou em sua promessa de campanha de alcançar “a paz total”. Em janeiro, uma crise humanitária foi deflagrada no norte do país com disputas violentas entre guerrilhas, como o Exército de Libertação Nacional (ELN) e dissidências das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) que se associaram ao narcotráfico.
O atentado contra Uribe e os 24 ataques com fuzis e bombas na terça (10), que deixaram ao menos 7 mortos e 28 feridos, obviamente agravam o quadro.
A Colômbia está longe de ser exemplo único de violência política na região. Será deplorável, no entanto, um retrocesso após avanços penosamente conquistados nas últimas décadas.
editoriais@grupofolha.com.br
Fonte ==> Folha SP