No terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) o país se vê novamente submetido a uma política econômica inconsistente, que prioriza o imediatismo eleitoral sobre a sustentabilidade orçamentária e o próprio desenvolvimento a longo prazo.
Por meio de gastos públicos crescentes e crédito oficial, o governo petista retoma a busca por impulsionar a demanda interna além da capacidade produtiva e da geração de poupança.
Até se consegue por algum tempo impulsionar o consumo e a atividade, mas a custo de pressão inflacionária, juros altos que agravam o problema de financiamento da dívida pública e aumento de déficits com o exterior.
Rombos simultâneos nas contas públicas e no saldo de transações correntes com o restante do mundo são chamados de déficits gêmeos. Longe de meros números abstratos, são sintomas de um modelo que financia excessos de demanda com dívida e importações —e que em algum momento está fadado a se esgotar.
Os sinais já se mostram claros. Nos 12 meses encerrados em julho, o déficit do governo federal atingiu 7,12% do Produto Interno Bruto, o que inclui R$ 1 trilhão em pagamentos com juros —o equivalente a 6,84% do PIB, cifra só comparável às dos últimos momentos da administração ruinosa de Dilma Rousseff (PT).
A dívida pública bruta chegou a 77,5% do PIB, um salto de 6 pontos percentuais em pouco mais de dois anos e meio, e deve superar 80% do PIB ao final do próximo ano. Enquanto isso, mesmo com exportações sólidas, o déficit na conta corrente (transações de bens e serviços com o exterior) passou de 1,4% para 3,5% do PIB nos 12 meses até julho.
Práticas e resultados assim são marca registrada dos mandatos petistas. No segundo governo Lula (2007-2010), o intervencionismo estatal começou a plantar sementes de descontrole, com expansão de dispêndios e subsídios que, embora populares, ignoravam os limites orçamentários.
Dilma chegou ao paroxismo: entre 2011 e 2016, a enxurrada de gastos e crédito público acabou com o superávit primário (sem incluir juros) do Tesouro Nacional, elevou o déficit externo e gerou uma inflação mascarada por represamento de preços de combustíveis e de tarifas públicas.
O estouro do modelo descambou para disparada de preços e uma recessão só comparável à do início da década perdida de 1980, ainda na ditadura militar.
Havia de início a dúvida se Lula 3 emularia Lula 1 (2003-2006), mais austero e prudente, ou Lula 2 (2007-2010), que semeou desastres futuros. Hoje, a terceira versão se aproxima mais de Dilma.
O PT, novamente, aposta na política do moto-contínuo: fazer crer que gastos sempre em alta alavancarão da mesma forma a economia, como se fosse possível gerar prosperidade sem base de poupança e produção. Tal como nas ciências naturais, essa abordagem ignora as restrições da realidade e ruma ao esgotamento.
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Fonte ==> Folha SP