Um manual de combate a incêndios no Cerrado será lançado no próximo dia 11 de novembro, durante a COP do Povo, organizada por comunidades tradicionais em paralelo à 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), em Belém (PA). Além da versão digital, o material será distribuído em comunidades da Amazônia, Pantanal e Cerrado.
O “Manual de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais das Comunidades do Cerrado”, organizado pela rede Agro é Fogo, traz estratégias de manejo integrado do fogo, prevenção, combate às chamas e restauração de áreas afetadas. A secretária-executiva da organização, Jaqueline Vaz, afirma que o manual foi elaborado no intercâmbio dos povos do Cerrado, realizado no ano passado no território Xerente, do povo Xerente, no Tocantins.
O objetivo foi “sistematizar essas experiências que os povos, especialmente os povos do Cerrado, que é o foco do manual, têm em relação ao processo de prevenção dos incêndios. Ou seja, trazer as estratégias de como eles fazem para prevenir que os incêndios cheguem ao território e também como funciona o combate quando o incêndio chega ao território”.
“Avaliamos esse material como de muita potencialidade, porque é algo que nasce dos territórios, das experiências que vêm deles. Não é nada ensinado às comunidades, é algo compartilhado. O manual é um material de compartilhamento de experiências, do manejo do fogo, da experiência das comunidades tradicionais, do que elas já fazem há muito tempo, ensinadas por seus ancestrais”, acrescenta.
Vaz também explica que o manual será lançado durante a COP do Povo por se tratar de um espaço “oportuno para divulgar essas vozes, dentro de um evento mundial, com a presença de vários parceiros nacionais e internacionais e com a participação significativa de organizações que compõem a articulação Agro é Fogo”.
“Esse lançamento, nesse espaço, simboliza também o anúncio e a denúncia das violações que acontecem nos territórios. O fogo criminoso promovido pelo agronegócio também é uma forma de violência e de violação de direitos”, argumenta.
A ideia das organizações é reproduzir o manual nos outros três biomas que a rede tem atuação: Amazônia, Caatinga e Pantanal, “criando um manual a partir de cada território, compartilhando as experiências dos povos de cada bioma”.
Recomendações
Entre as medidas recomendadas, está a capacitação para os moradores de comunidades sobre questões ambientais e a inserção da temática dos incêndios e consequências do desmatamento nas escolas. O documento também traz medidas mais específicas como fazer faixas de terra sem vegetação, conhecidas como “aceiros”, com mais de 10 metros no entorno do território para conter o fogo.
Além disso, a publicação reúne dados do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Lasa/UFRJ) e do Centro de Documentação Dom Tomás Balduino da Comissão Pastoral da Terra (Cedoc/CPT).
O Cerrado segue como o principal palco das queimadas em terras indígenas no Brasil. O manual aponta que, até o início de outubro de 2025, o bioma concentrou nove em cada dez hectares incendiados nesses territórios. Desde 2017, o Cerrado se mantém como o epicentro do fogo em áreas originárias, com uma média anual de 70% das terras indígenas afetadas pelas chamas.
Os dez territórios indígenas mais incendiados do país estão localizados na região, com maior incidência de focos nos estados de Tocantins, Mato Grosso e Maranhão. Mais de 7 milhões de hectares de Cerrado já foram consumidos pelo fogo neste ano.
Apesar de o Cerrado liderar em extensão queimada, o Pará, majoritariamente dentro do bioma amazônico, também ganha destaque no cenário de destruição ambiental. Estado-sede da COP30, a unidade federativa figura historicamente entre as que mais acumulam áreas devastadas por incêndios. Só em 2025, até a segunda semana de outubro, mais de 396 mil hectares foram atingidos pelas queimadas em solo paraense.
Fonte ==> Brasil de Fato

