Congresso tem o mando de campo – 31/05/2025 – Dora Kramer

A imagem mostra três homens em um evento. O homem à esquerda está vestido com um terno escuro e uma gravata clara, enquanto o homem à direita usa um terno escuro com uma gravata amarela. O homem no centro, com cabelo grisalho e barba, está usando um terno escuro e uma gravata rosa. Eles parecem estar conversando e o homem do centro está segurando um papel.

Por incrível que pareça, o governo ainda subestima o Congresso mesmo depois de os fatos terem dado repetidas mostras de que essa desatenção resulta em derrotas certas.

O presidente da República e o ministro da Fazenda pelo visto acreditaram que a mudança de comando no Parlamento alteraria a correlação de forças, devolvendo ao Palácio do Planalto o poder da iniciativa, da influência e da condução do processo decisório.

Só essa crença explica que Fernando Haddad (PT) tenha achado que poderia dar um drible no Legislativo e Luiz Inácio da Silva (PT) tenha assinado decreto de aumento do IOF fiando-se na amizade de Hugo Motta (Republicanos) e Davi Alcolumbre (União Brasil) firmada nas asas do avião presidencial mundo afora.

Se Lula e Haddad ainda não entenderam, desenhemos: os presidentes da Câmara e do Senado só estão onde estão devido à escolha de seus pares, aos quais darão prioridade sempre que o governo lhes fornecer uma chance de ouro como essa agora de dar um jeito nas contas via aumento de arrecadação.

A propagada lua de mel não foi extinta, mas recebeu uma pitada significativa de fel nas palavras duras de Alcolumbre sobre “usurpação de prerrogativas” e nos recados veementes de Motta: deu prazo para o governo recuar sob pena de ver o decreto derrubado, instou Lula a “tomar pé da situação” e avisou que, se houver recurso ao Supremo Tribunal Federal, as coisas vão piorar.

Nenhum dos dois se convenceu com a alegação do ministro sobre “a situação delicada” em que ficaria a máquina pública sem o dinheiro extra do IOF. Nem poderiam, pois ouviram isso do mesmo Haddad que vinha afirmando que estava tudo correndo bem em termos do equilíbrio fiscal e que os alertas em contrário eram fruto de avaliações equivocadas.

Por mais que o ministro tenha reafirmado que não há alternativa no horizonte, ficou sem saída. Terá de recuar porque o limite das boas relações com Motta e Alcolumbre é dado pela capacidade de reconhecer a força do Congresso na tomada de decisões do governo.



Fonte ==> Folha SP

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