21 de abril de 2025

Conservadores e progressistas, cardeais brasileiros se manifestam sobre Francisco e conclave para escolha de sucessor – Brasil de Fato

A morte de Francisco, nesta segunda-feira (21), marca o fim de um dos pontificados mais emblemáticos da história recente da Igreja Católica. Primeiro papa latino-americano, ele se destacou por sua postura crítica ao capitalismo, defesa dos pobres, do meio ambiente e por abrir brechas importantes na tradição conservadora do Vaticano.

Um novo papa deve ser eleito nas próximas semanas e sete cardeais brasileiros terão direito a voto no próximo conclave. Entre os que já se pronunciaram publicamente, chama atenção a fala de Dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo e nome historicamente associado aos setores mais conservadores da Igreja no país.

Scherer afirmou que a escolha do novo papa “não vem de conchavos feitos anteriormente”. Segundo ele, trata-se de um processo de discernimento realizado “em clima de oração, de um alto senso de responsabilidade em relação à Igreja”. “Não é salvar uma ideologia, um partido, um gosto”, disse. “É a grande responsabilidade sobre quem vai conduzir a Igreja. Nós, cardeais, celebramos o conclave, não é uma campanha eleitoral. É uma celebração.”

O cardeal também minimizou o debate sobre o perfil ideológico do novo pontífice. Para ele, é uma “preocupação externa saber se o novo papa será progressista ou conservador”. E concluiu: “A base do ensinamento da Igreja é tanto progressista quanto conservadora”.

A fala evita assumir qualquer posicionamento claro diante do legado de Francisco e ecoa o incômodo de setores da cúpula eclesiástica com a forma como o pontífice vinha enfrentando temas como mudanças climáticas, acolhimento de populações LGBTQIA+ e críticas à guerra e ao militarismo global.

Por outro lado, o arcebispo de Manaus, Dom Leonardo Ulrich Steiner, tido como uma das vozes progressistas da igreja católica no Brasil, chamou Francisco de “Papa da Amazônia” e lembrou de sua solidariedade com a humanidade no período da pandemia.

“Nós tivemos um grande papa. Um papa preocupado com os pobres, um Papa preocupado com a misericórdia de Deus, um Papa que desejou que o Evangelho fosse um motivo de alegria, fosse um motivo de esperança. É claro que todos nós sentimos porque não teremos mais seu sorriso, mas nos sentimos gratos a Deus por ter nos dado um Papa que nos ajudou a ir para frente. Abriu horizontes nas igrejas, fez com que as pessoas se sentissem amadas e pertencentes nas igrejas. O Papa nos acompanha agora no céu”, disse o cardeal.

O papa da “palavra certa”

Outros cardeais brasileiros adotaram tom mais emocional e reverente. O cardeal Paulo Cezar Costa, arcebispo de Brasília, falou em “sentimento de orfandade”. Segundo ele, “estamos tristes porque perdemos nosso amado papa Francisco”. E completou: “Parece que nós perdemos o pai. É um sentimento de tristeza e ausência”.

Já o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Jaime Spengler, destacou a escuta e a sensibilidade de Francisco. Para ele, o papa demonstrava “disposição extraordinária de ouvir” e possuía “capacidade de encontrar a palavra certa para a situação que se apresentava”.

O cardeal Orani João Tempesta, da Arquidiocese do Rio de Janeiro, sublinhou o compromisso do papa com causas populares e o diálogo entre diferentes religiões. Em sua declaração, lembrou que Francisco aproximou a Igreja do povo e demonstrou preocupação com questões como ecologia, fraternidade, diálogo inter-religioso e a situação de populações em guerra.

Mais direto e pragmático, dom João Braz de Aviz falou sobre os próximos passos. Informou que os cardeais iniciarão as reuniões preparatórias para o conclave já nesta terça-feira (22), em Roma. “Ainda não sabemos quanto tempo elas durarão”, disse. “O que sabemos é que amanhã, às 9h, no Vaticano, teremos a primeira reunião.”

Por fim, dom Sérgio da Rocha, arcebispo de Salvador, reforçou o caráter espiritual do processo de escolha. Ele lembrou que os nomes apontados pela mídia nas últimas eleições papais não se confirmaram. “O que se passa no conclave é a ação de Deus”, afirmou.

“Se forem tomar os últimos conclaves, observem quem eram os indicados para cada um dos conclaves. Observem que, de modo geral, os nomes indicados pela mídia não se confirmaram”, afirmou Rocha, afastando a possibilidade de que hajam favoritos entre os clérigos.

O cardeal dom Raymundo Damasceno Assis, arcebispo emérito de Aparecida, também se manifestou sobre a morte do papa Francisco. Em entrevista, destacou as reformas implementadas por Francisco no Vaticano, como a limitação de mandatos na Cúria Romana e a inclusão de leigos e mulheres em cargos importantes.

Damasceno também relembrou a simplicidade do pontífice, mencionando que, após sua eleição, Francisco optou por retornar à Capela Sistina de ônibus com os demais cardeais, dispensando o carro oficial.

A eleição do novo papa deve reabrir disputas internas entre os setores progressistas e conservadores da Igreja, que voltam ao centro do debate. O que está em jogo, mais do que a sucessão de um pontífice, é o futuro da própria Igreja Católica diante dos dilemas do século 21.



Fonte ==> Brasil de Fato

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