O setor de construção civil no Brasil vem passando por uma transformação silenciosa, mas de grande impacto: a ascensão da construção sustentável. Entre materiais alternativos, a madeira plástica tem se consolidado como uma das principais apostas para projetos que unem durabilidade, estética e preservação ambiental.
Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria do Plástico, o país produz mais de 7 milhões de toneladas de plástico por ano, e apenas cerca de 23% é reciclado. O uso da madeira plástica — material obtido a partir do reaproveitamento de resíduos plásticos — surge como alternativa capaz de reduzir a pressão sobre florestas e ampliar o ciclo de vida de materiais que seriam descartados. Para cada 10m² instalados, estima-se que uma árvore seja poupada do corte.
O mercado de alto padrão tem puxado essa demanda. Shoppings, resorts, empreendimentos imobiliários e espaços corporativos buscam cada vez mais soluções que unam design, inovação e responsabilidade ambiental. De acordo com um levantamento do Conselho Internacional de Construção Sustentável (WorldGBC), 60% dos consumidores globais preferem marcas que adotam práticas sustentáveis, tendência refletida também na construção civil.
No Brasil, empresas especializadas no setor já registram faturamento expressivo. O empresário e designer de interiores Douglas Chaves Tho, CEO da Abradecks, avalia que o segmento vive um momento de consolidação. “Há alguns anos, falar em madeira plástica era quase uma novidade. Hoje, ela já é uma exigência em projetos de alto padrão. O consumidor mudou: ele quer um produto que entregue estética e durabilidade, mas que também preserve o meio ambiente”, comenta.
A trajetória da Abradecks ilustra esse movimento. Fundada em 2013, a empresa começou atuando em projetos locais e, em uma década, atingiu faturamento recorde de R$ 3 milhões em 2023, consolidando-se como referência no mercado nacional. Entre os destaques recentes está o projeto de 2.200m² de deck ecológico no Village Mall, no Rio de Janeiro, com investimento superior a R$ 2,3 milhões.
Além disso, a inovação tecnológica tem ampliado o alcance das soluções. Douglas Tho desenvolveu a técnica ADC (Abradecks Cordas), que combina madeira ecológica e cordas náuticas, agregando estética diferenciada e maior versatilidade em projetos de piscinas e áreas externas. A parceria exclusiva com a empresa holandesa Esthec, fornecedora de decks para iates da Mercedes-Benz, também posiciona a marca brasileira em um patamar de competitividade internacional.
Para especialistas, a tendência é irreversível. O mercado global de materiais sustentáveis na construção deve ultrapassar US$ 600 bilhões até 2030, segundo estimativas da Allied Market Research. No Brasil, embora os números sejam ainda incipientes, a pressão de consumidores e de investidores por práticas de ESG deve acelerar a adoção de produtos como a madeira plástica.
“Os projetos sustentáveis não são mais um diferencial, mas uma exigência. Quem não acompanhar essa mudança ficará para trás”, afirma Douglas, destacando que o próximo desafio do setor é expandir para além dos empreendimentos de alto padrão, alcançando habitações populares e obras públicas.
O avanço da construção sustentável, portanto, aponta para um futuro em que inovação, design e preservação caminham juntos, criando um novo padrão para a engenharia e arquitetura brasileira.
