O poder público atua de modo mais eficaz contra as drogas quando elas não estão escondidas no submundo do tráfico. A legalização facilita o desenho de políticas de prevenção, contenção e tratamento baseadas em diretrizes técnicas. O álcool é um exemplo.
Segundo pesquisa do Datafolha, que entrevistou 1.912 pessoas acima dos 18 anos em 113 municípios das cinco regiões do país, 49% dos brasileiros não ingerem nenhum tipo de bebida alcoólica.
Entre os 51% que o fazem, mais da metade (53%) relata que o consumo diminuiu no ano anterior à sondagem —para 35%, manteve-se igual, e 12% notaram aumento. A quantidade ingerida é considerada adequada por 81%, enquanto 18% acham que bebem mais ou muito mais do que deveriam.
O critério de consumo abusivo da substância, usado em pesquisas e pelo Ministério da Saúde, é de 5 doses ou mais em uma mesma ocasião para homens, e de 4 doses ou mais para mulheres.
O Datafolha perguntou quantas doses os entrevistados haviam tomado na última semana. A média brasileira ficou em 4,5. Mas 55% ou não beberam no período ou tomaram só até 2 doses, enquanto 16% ingeriram de 3 a 5, e 23% exageraram com 6 a 11.
O principal motivo para a abstinência é o risco para a saúde, apontado por 34% dos entrevistados que não ingerem a substância —seguido por não gostar do sabor (21%), religião (13%), histórico de dependência na família (11%) e medo (7%). Tal fator aponta para o papel da informação na contenção do consumo, que tem apresentado tendência de queda em certos países.
Nos Estados Unidos, a porcentagem de pessoas entre 18 e 35 anos que afirmam beber caiu de 72% em 2003 para 62% em 2023. De acordo com o Datafolha, em estrato similar a esse (18 a 34 anos), a taxa é de 58%.
Mas o uso abusivo entre 18 e 24 anos no Brasil preocupa. O levantamento nacional Covitel de 2023 mostra que o consumo exagerado nessa faixa etária subiu de de 25,8% em 2022 para 32,6% em 2023. Nos EUA, a taxa entre 18 e 25 anos, já bastante inferior à nossa, caiu de 7,6% a 6,9% no período.
É preciso cuidar dos estratos jovens, com programas em escolas e universidades e protocolos de atendimento no SUS.
O Estado, por óbvio, deve agir contra as drogas. Mas com sensatez, em vez de proibição.
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Fonte ==> Folha SP