24 de abril de 2025

Controle no uso de ‘medicamentos para emagrecer’ é questão de saúde pública – 25/02/2025 – Opinião

Controle no uso de 'medicamentos para emagrecer' é questão de saúde pública - 25/02/2025 - Opinião

A popularidade crescente de medicamentos como Ozempic, Wegovy e Mounjaro, pertencentes à classe dos análogos do GLP-1 (que agem de forma semelhante ao hormônio natural), trouxe à tona uma discussão importante: o uso adequado e controlado desses fármacos.

Registrados no Brasil para tratar diabetes tipo 2 e obesidade, esses medicamentos têm sido frequentemente usados para fins estéticos, muitas vezes sem a devida prescrição médica. Esse comportamento não apenas coloca a saúde das pessoas em risco, mas também dificulta o acesso para quem realmente precisa, além de abrir espaço para problemas como falsificação e venda ilegal.

Embora a legislação atual exija receita médica para a compra desses medicamentos, a prática demonstra outra realidade: é possível adquiri-los em farmácias e drogarias sem apresentar qualquer prescrição. Esse acesso facilitado contribui para o uso indiscriminado e os potenciais danos à saúde.

Preocupada com esses riscos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) realizou uma análise detalhada sobre o impacto e os efeitos adversos desses medicamentos no Brasil. Como resultado, propôs uma medida para reforçar o controle: exigir a retenção da receita médica no momento da compra. Essa proposta, que manteria os medicamentos na classificação de tarja vermelha mas com retenção de prescrição nas farmácias, ainda aguarda aprovação pela Diretoria Colegiada da Anvisa após ser retirada de pauta, apesar de sua urgência e fundamentação técnica.

Os números destacam a gravidade da situação. Em 2024, a venda de medicamentos como Ozempic ultrapassou 3 milhões de unidades, gerando uma receita de mais de R$ 4 bilhões quando unido aos medicamentos da mesma classe. Porém, esse aumento nas vendas veio acompanhado de um crescimento preocupante nos relatos de efeitos adversos, como pancreatite, que ocorre no Brasil em uma taxa mais que o dobro da média global (5,9% contra 2,4%). Além disso, 32% dos eventos adversos relatados estão ligados ao uso desses medicamentos fora das indicações aprovadas, segundo a gerente de farmacovigilância da Anvisa, Flávia Neves Alves.

A proposta da agência visa conter o uso irracional desses medicamentos e proteger os pacientes de efeitos colaterais graves. A medida é apoiada por entidades como a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) e o Conselho Federal de Medicina.

No entanto, enfrenta resistência da indústria farmacêutica, que critica a falta de consulta pública antes da publicação da nova resolução, além do entendimento de que a retenção da receita não é uma solução para o problema. Ainda assim, é importante enfatizar que a Anvisa possui respaldo legal para adotar normas de urgência quando a saúde pública está em risco.

O atraso na implementação de uma regulamentação mais rígida é preocupante, pois prolonga a exposição da população a riscos evitáveis. A venda indiscriminada de medicamentos de tarja vermelha, no geral, é um problema estrutural que também exige atenção. No caso dos análogos do GLP-1, o apelo estético, aliado à promessa de emagrecimento rápido, intensifica o uso inadequado.

O controle mais rigoroso, como a retenção de receita, é um passo inicial, mas não o único necessário. É fundamental que farmácias, vigilâncias sanitárias e profissionais de saúde trabalhem juntos para educar a população sobre os riscos da automedicação e promover o uso responsável desses medicamentos.

A iniciativa da Anvisa marca um avanço importante no enfrentamento do uso inadequado de medicamentos no Brasil. Proteger a saúde pública requer decisões firmes e rápidas, e a regulamentação mais rígida na restrição das vendas deve ser vista não como uma barreira ao acesso, mas como uma garantia de segurança para todos.

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Fonte ==> Folha SP

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