Diante da crescente interdependência global, o Grande Caribe enfrenta desafios complexos que exigem respostas coletivas e urgentes. As mudanças climáticas impactam fortemente os pequenos Estados insulares e as costas continentais; a insegurança alimentar, os desastres naturais e as desigualdades sociais agravam a fragmentação regional. Nesse contexto, a integração deixa de ser apenas aspiração política e torna-se uma necessidade vital.

A diversidade linguística, política e econômica da região dificultou a construção de um projeto comum. Contudo, desafios compartilhados — como mudanças climáticas, turismo sustentável, narcotráfico e comércio intra-regional — demandam espaços multilaterais mais eficazes.

É nesse cenário que ocorre a 10ª Cúpula da Associação dos Estados do Caribe (AEC), de 27 a 30 de maio, em Cartagena e Montería, sob presidência pro tempore da Colômbia. Trata-se de uma oportunidade estratégica para revitalizar a AEC como plataforma central de integração regional.

Criada em 1994, a AEC reúne 25 Estados Membros e Membros Associados, entre eles México, Colômbia, Venezuela, América Central, Guianas e Estados Insulares do Caribe. Com sede em Porto de Espanha, a associação representa mais de 270 milhões de habitantes e um imenso patrimônio cultural e ecológico.

Ao longo de três décadas, a AEC mostrou capacidade de adaptação e foco prático em eixos como comércio, turismo, transporte e gestão de riscos. Sua atuação tem buscado conciliar interesses diversos, com base na solidariedade e no respeito mútuo.

Contudo, o cenário global mudou. Crises de saúde, conflitos geopolíticos e os efeitos extremos das mudanças climáticas impõem uma renovação profunda da agenda da AEC. A recente aprovação do Plano Estratégico 2025-2030 é um passo nessa direção, assim como a escolha da nova Secretária-Geral, a diplomata hondurenha Noemí Espinoza Madrid.

Entre as prioridades estão o fortalecimento institucional, a solução de questões administrativas e o aumento da transparência. É crucial também ampliar a visibilidade da AEC junto à opinião pública, envolvendo mais a sociedade civil, universidades e setores produtivos.

Uma proposta em destaque é alinhar os objetivos da AEC aos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da ONU. Essa integração permitirá uma abordagem mais abrangente dos desafios regionais, como erradicação da pobreza, transição energética, segurança alimentar, transformação digital e justiça climática.

O lema da cúpula, “Unidos pela vida: rumo a um Caribe mais sustentável”, resume bem a vocação integradora necessária. Em meio a tensões internacionais e incertezas econômicas, o Grande Caribe precisa se afirmar como uma região de paz, cooperação e sustentabilidade — exigindo compromissos e ações concretas dos governos e demais atores relevantes.

A história caribenha, marcada por dependência, intervenção externa e resistência, oferece lições valiosas. Hoje, essa trajetória deve inspirar um novo ciclo de integração com instituições fortes, cidadania regional ativa e ações conjuntas.

A AEC pode se consolidar como principal mecanismo de coordenação política e técnica da região. Para isso, precisa modernizar sua estrutura, ampliar sua legitimidade, atrair investimentos e fortalecer parcerias com organizações internacionais, ONGs e universidades.

A 10ª Cúpula da AEC não é apenas mais um evento diplomático: é uma oportunidade histórica de fortalecer a integração, renovar o compromisso com o desenvolvimento sustentável e traçar um caminho concreto para um Caribe mais justo, resiliente e unido. Em tempos de incerteza, integrar-se é uma urgência