21 de abril de 2025

Débora Falabella fascina com atuação cheia de nuances em ‘Prima Facie’

Débora Falabella fascina com atuação cheia de nuances em 'Prima Facie'

CRISTINA CAMARGO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em cartaz em São Paulo com seu primeiro monólogo, “Prima Facie”, Débora Falabella temeu subir ao palco sozinha e perder o ritmo das cenas. A peça, sob a direção de Yara de Novaes, que estreou uma nova temporada neste final de semana após o sucesso em 2024, exige uma entrega física e emocional intensa ao abordar a história da bem-sucedida advogada Tessa, que revê valores e reflete sobre o sistema judicial após ser vítima de um estupro.

O talento e a concentração de Falabella, no entanto, fazem com que o solo seja visto como o momento mais impressionante de sua carreira. Especialmente na primeira parte do espetáculo, a performance mostra que ela incorporou o texto da dramaturga australiana Suzie Miller ao corpo e transformou as palavras em uma coreografia que inclui gestos enfáticos e nuances na postura, além das trocas de figurino e até de penteados.

Não há pausas ou atalhos para facilitar a interpretação. São falas e movimentos vigorosos, capazes de capturar a atenção do público para a trajetória da criminalista satisfeita com o sucesso nas disputas jurídicas, em que ganha quem for mais eficiente na exploração das brechas da lei. Tessa joga, admite isso, sente orgulho e celebra a vida até virar vítima da violência sexual.

A direção optou por não dramatizar a cena do estupro, que é narrado em detalhes, mas de forma distanciada. É como se Falabella parasse de interpretar por alguns minutos para tocar em uma ferida da sociedade atual sem, no entanto, explorar o fato.

A atriz não perde o fôlego durante os 90 minutos da apresentação e encontrou estratégias para seguir em frente mesmo quando escapa uma palavra ou outra do texto original. No entanto, na segunda parte do espetáculo, o tom é mais baixo, mais realista, mais denúncia.

“Prima Facie” estreou na Broadway e foi montado em vários lugares do mundo em formatos diferentes, mas sempre com a missão de refletir sobre a falta de respostas suficientes para os crimes sexuais contra as mulheres.

Ao questionar o mundo jurídico dominado por homens, a peça chamou a atenção de Raquel Dodge, ex-procuradora-geral da República que se movimentou para levar a montagem a Brasília. Na capital federal, a estreia foi aplaudida por ministros, juízes, promotores e defensores públicos.

Em um cenário que não esconde os bastidores teatrais, uma tendência contemporânea, a hierarquia jurídica é representada por cadeiras empilhadas. No auge do sucesso profissional, a personagem rodeia e escala esse mundo poderoso e ocupa o palco simulando disputas entre gatos e ratos.

“Os taxistas não escolhem os seus clientes”, argumenta, ao explicar que cabe a uma advogada criminalista defender, também, os homens que violentam as mulheres.

Ao passar do êxtase ao desamparo, a advogada perde o rumo e é quase dominada por dúvidas, mas é a força que faz parte de sua personalidade que a leva a seguir em frente, denunciar o estupro e enfrentar a opressão de um sistema que não foi criado ou pensado para as mulheres.

Sozinha no palco, Falabella dá a impressão de contracenar com vários atores ao longo da peça. Após o estupro, acuada, revela, também em seu corpo e na sua voz, a solidão de uma mulher que é vítima da violência estrutural e histórica.

Prima Facie
Quando: Sex. e sáb., às 20h; Dom., às 18h. Até 30/3
Onde: Teatro Vivo -av. Doutor Chucri Zaidan, 2460, São Paulo.
Preço: R$ 150
Classificação: 12 anos
Autoria: Suzie Miller
Elenco: Débora Falabella
Direção: Yara de Novaes
Link: https://bileto.sympla.com.br/event/97960/d/287913/s/1963618
Avaliação: Excelente

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Fonte ==> Gazeta do Povo e Notícias ao Minuto

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