A proposta do presidente Lula de que a Petrobras venda diretamente gasolina, diesel e gás aos consumidores pode funcionar como desabafo e gerar algumas manchetes, nada mais do que isso. Para vender combustíveis e botijões de gás é necessário ter uma rede em todo o Brasil, além de locais de armazenamento. Se houver interesse mesmo em que os preços baixem, será mais produtivo se reunir com governadores e propor uma redução geral de impostos federais e estaduais.
No site da Petrobras, há o ícone “Preço dos Combustíveis”. Ele dá acesso a uma página que trata do assunto. Por exemplo, vejamos o preço da gasolina, considerando uma média de R$ 6,37. A parcela da Petrobras equivale a R$ 2,21. Impostos federais, de 10,8%, incluem R$ 0,69 no preço. Os estaduais, 23,1%, mais R$ 1,47. O custo do etanol adicionado na gasolina é de 13,8%, ou R$ 1,12, e o da distribuição e revenda, 17,6%, ou seja, R$ 1,12.
Seria importante reunir todos os segmentos responsáveis por parte do preço final —Petrobras, governo federal, governos estaduais, produtores de etanol, distribuidores e revendedores, para debater formas de reduzir custos.
Lula acusou os intermediários de “assaltar” o povo. Quem seriam? Os governos estaduais que carregam no ICMS? O governo federal? Os fornecedores de etanol, os distribuidores ou revendedores? O que diz a ANAP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) sobre isso?
Quem depende de automóvel para trabalhar ou estudar, certamente gostaria de saber qual o culpado, ou os culpados, pelo preço do combustível, que acaba encarecendo praticamente todos os produtos e serviços que consumimos no país. E quem usa o gás para cozinhar, então, nem se fala.
Desabafos como o que foi feito pelo presidente em evento da Petrobras em Angra dos Reis, na segunda-feira (17), não costumam resolver problemas.
A dependência das rodovias brasileiras para transporte de cargas é um velho erro que continua se repetindo. Ferrovias e hidrovias seriam muito mais adequadas para esse tipo de transporte. E o transporte ferroviário de passageiros, quase inexistente no país, seria mais seguro e confortável.
Folha Mercado
Receba no seu email o que de mais importante acontece na economia; aberta para não assinantes.
Mudar esse modal de transporte demanda tempo e dinheiro. Mas, mais do que isso, ação. Até hoje, não há uma operação sequer de trem-bala no Brasil. Estações ferroviárias continuam apodrecendo ou sendo utilizadas para outros fins pelo país afora.
Não podemos continuar dependendo tanto de combustíveis fósseis e de rodovias. Isso faz mal para a segurança dos passageiros, além do custo elevado e das consequências ambientais, o que também vale para o transporte de cargas. Esse é o meu desabafo.
Fonte ==> Folha SP