Disposição de apertar os cintos na Petrobras é bom sinal – 19/05/2025 – Opinião

Disposição de apertar os cintos na Petrobras é bom sinal - 19/05/2025 - Opinião

A Petrobras anunciou lucro de R$ 35,2 bilhões no primeiro trimestre de 2025, 48% a mais que no mesmo período de 2024, mas parte relevante do resultado decorreu da apreciação do real —que impactou favoravelmente o resultado em razão do endividamento em moeda estrangeira da empresa.

Descontados os fatores pontuais, o lucro cai a R$ 23,6 bilhões, com queda de 12,1% na comparação anual. Nesse contexto, a presidente da estatal, Magda Chambriard, alertou para a necessidade de “apertar os cintos” diante da queda no preço do petróleo.

A cotação do barril Brent, referência internacional, ronda hoje US$ 65, muito abaixo dos patamares do início deste terceiro governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em torno de US$ 85. A redução, por óbvio, impacta diretamente as receitas das empresas do setor e, no caso brasileiro em particular, põe em xeque planos ambiciosos de investimentos.

Fatores como a desaceleração econômica global, que pode resultar da guerra tarifária iniciada pelos Estados Unidos, e o aumento da oferta recente de produtores da Opep indicam que é preciso maior prudência na gestão de projetos e controle de custos.

É positivo que a administração petista, historicamente alinhada a condutas temerárias na petroleira, desta vez aparente ter maior preocupação com a sustentabilidade dos resultados para preservar a solidez no longo prazo.

Parece um sinal de que as melhorias introduzidas na governança das estatais a partir de 2016 —após a ruína produzida sob Dilma Rousseff (PT)— resistem às pressões ideológicas e corporativistas por mais intervencionismo na economia.

Outra boa indicação vem da política de preços, que não se desviou em demasia das cotações internacionais, um risco que vinha sendo considerado pelo mercado e que poderia afetar o abastecimento interno. Afinal, um eventual populismo tarifário impediria importações, que são necessárias diante da insuficiência da oferta interna de combustíveis.

Quanto a controle de custos, a Petrobras já demonstrou que é capaz de reduzir despesas operacionais, como visto em gestões anteriores que arrumaram a casa depois dos desmandos passados.

Quanto aos projetos, a estatal deve concentrar esforços em ativos de alta rentabilidade na área de exploração e produção, que são viáveis em sua maior parte desde que o preço do petróleo se mantenha acima de US$ 45 por barril de maneira duradoura.

A seletividade é crucial para manter a geração de caixa no cenário de preços mais baixos. Mesmo assim, está por ser verificado se a atual direção será capaz de resistir à insistência do governo de fazer da empresa um motor de investimentos menos rentáveis para atender a desígnios políticos, ainda mais diante da aproximação das eleições de 2026.

Se infelizmente a privatização é tabu para os petistas, que ao menos se preserve a saúde financeira da maior empresa do país.

editoriais@grupofolha.com.br



Fonte ==> Folha SP

Leia Também

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *