No domingo (9), os equatorianos foram às urnas pela terceira vez em quatro anos, o que por si só indica um cenário tenso e instável. De fato, desde 2019, o país já passou por ondas de protestos, dois processos de impeachment, dissolução do Parlamento, um candidato à Presidência assassinado e decretos de estado de exceção.
O presidente e candidato de centro-direita, Daniel Noboa, chegou ao poder em novembro de 2023 por meio de eleições antecipadas convocadas por Guillermo Lasso, ex-mandatário que interrompeu o próprio impeachment com a manobra.
Sua opositora, a advogada e ex-deputada Luisa González, tem como padrinho político o esquerdista Rafael Correa, que governou o Equador de 2007 a 2017, foi condenado por corrupção e atualmente vive na Bélgica.
A disputa foi apertada e irá ao 2º turno em abril. Com mais de 96% das urnas apuradas até terça (11), Noboa teve 44,15% dos votos válidos, e González, 43,95%.
Somada à instabilidade política, a escalada inaudita de violência será um desafio para o próximo presidente. Com o acordo entre o governo colombiano e as Forças Armadas Revolucionárias (Farc) em 2016, facções dissidentes se espalharam pela região, incitando conflitos sangrentos com cartéis e gangues no Equador.
De 2016 a 2022, a taxa de homicídios saltou de 6 por 100 mil habitantes para 26/100 mil, segundo o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos do Reino Unido. Dados oficiais do governo indicam 38/100 mil assassinatos em 2024 —pequena queda em relação ao ano anterior (47/100 mil).
Noboa implantou uma política linha dura, com militarização da segurança e sucessivos decretos de estado de exceção, que não tem conseguido conter de modo significativo o morticínio e ainda tem gerado denúncias de infrações dos direitos humanos.
O pendor autoritário de Noboa se manifestou no pleito, que foi pacífico. Segundo a oposição, ele infringiu a lei eleitoral ao não se licenciar do cargo de presidente para participar da disputa. Já o candidato denunciou, sem provas, supostas irregularidades na contagem dos votos.
Além da polarização baseada em populismos, fenômeno que se verifica em outros países da América Latina, o Equador vive um momento de fragilidade institucional, o que é temerário para sua democracia.
Espera-se que, até abril, os postulantes apresentem propostas concretas para os problemas que afligem a população. E, depois, que o vencedor atue para acalmar os ânimos do cenário político.
editoriais@grupofolha.com.br
Fonte ==> Folha SP