Três eleições realizadas no final de semana na Europa mostraram que a direita nacionalista está avançando no continente, em meio à crescente ameaça russa, descontrole migratório e problemas econômicos das nações.
Em Portugal, o partido de centro-direita Alternativa Democrática (AD), do atual primeiro-ministro Luís Montenegro, foi o grande vencedor das eleições gerais, com a conquista de 32,7% dos votos e 89 deputados no Parlamento português.
Contudo, outra legenda ganhou destaque com seu melhor resultado da história, o direitista Chega, que até o momento alcançou o mesmo número de assentos no Parlamento que os socialistas, que registraram o pior desempenho desde a década de 1980. Os dois partidos têm 58 cadeiras, cada, mas o Chega ainda pode crescer nos próximos dias com a definição de quatro assentos restantes, decididos por eleitores que residem fora de Portugal.
Apesar da liderança, o partido de centro-direita Alternativa Democrática (AD) não formou maioria e precisará negociar com outras legendas.
O resultado do partido Chega chama a atenção, visto que a legenda tem apenas seis anos de existência e já conquistou mais de 20% de apoio em Portugal. Seu programa de governo ficou conhecido pelo foco no controle migratório, que rendeu muitos adeptos ao longo dos anos diante dos problemas enfrentados na Europa, com ênfase no país, um dos principais destinos de estrangeiros.
Na Polônia, o candidato liberal e atual prefeito de Varsóvia, Rafal Trzaskowski, liderou a corrida para a presidência com 31, 3% dos votos, mas enfrentará o conservador Karol Nawrocki em um segundo turno.
Apesar das figuras de direita nacionalista não terem avançado a ponto de participar da nova votação, em 1º de junho, elas alcançaram um resultado expressivo e o mais alto da história, com 21% de apoio. Agora, os candidatos à presidência buscam estratégias de transferir os votos desses eleitores para suas legendas no segundo turno.
Os dois representantes da direita nacionalista polonesa são Slawomir Mentzen, do partido Confederação, que obteve 14,8% de apoio e o anti-establishment Grzegorz Braun, que conquistou 6,3%.
A legenda de Mentzen recebeu forte apoio dos jovens poloneses, com um programa de governo focado no controle da imigração, liberdade de expressão “ao estilo dos EUA” e, menos presente na campanha, a condenação ao aborto. Uma pesquisa da Opinia24 para a emissora privada TVN, publicada após o primeiro turno, mostrou que cerca de 10% dos eleitores desses partidos se consideram indecisos ou se recusam a votar em um segundo turno, por não concordarem com os presidenciáveis.
Outra eleição que aconteceu neste domingo (18) foi a da Romênia, marcada pela polêmica anulação do pleito no ano passado pela Corte Constitucional da Romênia devido a alegações de interferência russa com a vitória do candidato de de direita nacionalista Calin Georgescu.
Com a nova votação, o independente Nicușor Dan, prefeito de Bucareste, desbancou George Simion, do partido Aliança pela União dos Romenos (AUR), considerado pró-Rússia. Georgescu foi impedido de continuar na disputa à presidência.
Mas esse avanço da direita nacionalista não começou agora na Europa. Em fevereiro, o partido Alternativa para a Alemanha (AfD), apoiado nos últimos meses pelo bilionário Elon Musk, ficou em segundo lugar nas eleições gerais. Em maio, a legenda levou um duro golpe ao ser classificada como “extremista” pelos serviços de inteligência do Ministério do Interior da Alemanha.
O partido tem como foco o controle da imigração, a liberdade de expressão e o impulsionamento da economia.
O partido Reagrupamento Nacional (RN), liderada por Marine Le Pen na França, também obteve ganhos exponenciais desde as últimas eleições para o Parlamento no ano passado.
No primeiro turno, o RN chegou a despontar como mais votado nas eleições legislativas. No segundo turno, no entanto, a esquerda se uniu ao centro para derrubar essa liderança da direita nacionalista. Mesmo assim, houve um crescimento na força política do RN no último pleito, passando de 33% para 37% entre o primeiro e o segundo turnos.
Desde 2022, a Itália – provavelmente o caso mais emblemático de ascensão da direita nacionalista – também vive esse movimento com o governo da primeira-ministra Giorgia Meloni, do partido Irmãos da Itália.
Entre as pautas de maior destaque da legenda estão a condenação do aborto, políticas identitárias e controle migratório.
Retorno de Trump à Casa Branca contribui com avanço da direita nacionalista, mas não é determinante
Marcello Marin, mestre em Governança Corporativa, aponta alguns fatores que contribuem para o crescimento da direita nacionalista na Europa. “Existem diversos fatores que levaram ao avanço da direita nacionalista na Europa. Um dos principais pontos é a desilusão com os governantes atuais, geralmente de centro, esquerda, que fazem com que a população se sinta traída ou descontente com tudo o que vem acontecendo na Europa e pelo mundo todo”.
Marin destaca que as crise migratória que atinge o continente europeu nos últimos anos é outro fator importante na hora de analisar o fenômeno de avanço da direita nacionalista.
“As crises migratórias enfrentadas por esses países impactam diretamente nos princípios de soberania. Vimos essa tendência na Hungria, Polônia, agora Portugal, França, Alemanha, Itália. Esse movimento tende a piorar com as crises sociais e econômicas que emergem no continente”, destacou.
Na visão de Marin, o retorno de Donald Trump à Casa Branca pode ser considerado um braço de influência para mais eleitores europeus apoiarem o nacionalismo, no entanto “não é determinante”.
“O Trump é nacionalista, portanto pode existir uma relação com seu retorno à Casa Branca. Contudo, [os desafios] na Europa são mais profundos e antigos do que isso. O Trump pode ser um fator, mas não é um determinante para essa mudança de perspectiva. O que realmente provoca esses movimentos são o custo de vida, que aumentou muito nos últimos anos; a imigração; as falhas da União Europeia (UE) em suas políticas de segurança, passando uma ideia de vulnerabilidade para os cidadãos”.
Segundo Marin, a ameaça crescente da Rússia no continente também contribui com o avanço da direita nacionalista, uma vez que as lideranças desse espectro político alertam aos cidadãos que não há mais espaço para uma Europa liberal, mais avessa a questões de segurança. “Os nacionalistas são mais incisivos nessas questões de segurança, portanto utilizam isso em seus discursos para manter a população mais alinhada aos seus ideais, em defesa da soberania”, afirmou.
Fonte ==> Gazeta do Povo e Notícias ao Minuto