10 de junho de 2025

Em Nice, Lula discursa sobre ‘Amazônia azul’ em agenda encurtada por resfriado

Em Nice, Lula discursa sobre 'Amazônia azul' em agenda encurtada por resfriado

ANDRÉ FONTENELLE
NICE, FRANÇA (FOLHAPRESS) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) encurtou a agenda do último dia de sua visita à França, nesta segunda (9), devido a sintomas de um resfriado ou gripe.

De manhã, ele participou da abertura da 3ª Conferência dos Oceanos das Nações Unidas (UNOC3), em Nice. Ele deveria ficar até a sessão plenária, mas saiu mais cedo que o inicialmente programado.

Em seu discurso, na sessão de abertura, o presidente da França, Emmanuel Macron, dirigindo-se diretamente ao “caro Lula”, lembrou a comunhão de objetivos entre a UNOC3 e a COP30, em novembro, em Belém.

Macron fez uma provocação indireta ao bilionário Elon Musk e seu projeto de viagens espaciais. Para o presidente francês, é preciso explorar “nossa última fronteira, os oceanos, em vez de nos precipitarmos para Marte”.

“A Groenlândia não está aí para ser tomada”, disse Macron em outro trecho do discurso, referindo-se ao projeto do presidente dos EUA, Donald Trump, de conquistar a ilha, território dinamarquês.

O presidente brasileiro só começou a discursar às 10h43, quase duas horas depois do anunciado pelo Planalto. Com a voz rouca, pigarreou em alguns momentos.

Lula fez uma brincadeira sobre o nome da cidade anfitriã da conferência. Disse achar que “Nice” era homenagem a uma mulher, mas que aprendeu que na verdade o nome “é resultado de muita luta” -vem de “Niké”, deusa da vitória na mitologia grega.

“Temos orgulho de ser uma nação oceânica”, disse Lula, explicando o conceito de “Amazônia azul”. “As duas Amazônias sofrem o impacto das mudanças do clima”.

O presidente da conferência, Rodrigo Chaves, que também preside a Costa Rica, mencionou aos presentes que o discurso de Lula não fazia parte originalmente da programação da sessão de abertura, evidenciando que a participação do brasileiro foi antecipada.

Lula encerrou o discurso dizendo que na COP30 é preciso tomar “decisões importantes”: convencer os chefes de Estado a acreditar nas mudanças climáticas, a investir na educação sobre o tema. “Quem defende a Amazônia precisa ir para ver a nossa COP30”, acrescentou, convidando os presentes a ir a Belém em novembro.

Ainda no final da manhã, ele visitou a sede da Interpol, organização internacional de polícias, em Lyon. Esse evento estava originalmente marcado para o início da tarde. O secretário-geral da entidade é brasileiro, o delegado da Polícia Federal Valdecy Urquiza, e Lula empenhou-se pessoalmente para que fosse eleito para o cargo, na primeira vez que um brasileiro chefia a Interpol.

Em seu discurso, o presidente disse que pensou em voltar ao Brasil na noite anterior, mas que foi convencido por sua equipe a ir a Lyon para prestigiar Urquiza. “Não é comum um presidente da Republica visitar a Interpol, então, eu deveria fazer todo o sacrifício para estar aqui e eu estou aqui”, declarou. No evento, foi assinada uma declaração de intenções entre Brasil e Interpol, mas sem detalhes sobre ações específicas.

No domingo (8), ao participar do Fórum de Economia e Finanças Azuis, em Mônaco, Lula tossiu durante seu discurso e assoou o nariz em alguns momentos. Horas depois, o governo confirmou que ele havia cancelado a participação em um jantar de gala, naquela mesma noite, e anunciou as alterações na agenda de segunda-feira.

Lula, que completa 80 anos em outubro, teve uma agenda carregada na França, onde chegou no dia 4. No dia 5, enfrentou chuva fina e uma temperatura em torno de 15 graus para tirar uma foto com o presidente da França, Emmanuel Macron, e as respectivas primeiras-damas diante da Torre Eiffel iluminada com as cores da bandeira do Brasil.

Co-organizada por França e Costa Rica, a UNOC3 reúne chefes de Estado, organizações internacionais e sociedade civil até sexta-feira (13) em Nice para estabelecer um plano de ação em favor do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14 das Nações Unidas.
O ODS 14, como é conhecido, prevê que até 2030 a humanidade consiga “conservar e usar de forma sustentável os oceanos, mares e os recursos marinhos”.

O objetivo da UNOC3 é proteger 30% dos oceanos até 2030, por meio do fortalecimento do conhecimento científico marinho, da conclusão de processos multilaterais de proteção oceânica e do financiamento para a economia azul sustentável.

Uma das prioridades da UNOC3 será a entrada em vigor do Acordo BBNJ, sigla em inglês para “biodiversidade em áreas além da jurisdição nacional”, adotado em março de 2023. A França ratificou o tratado em novembro de 2024 e trabalha para alcançar as 60 ratificações necessárias. O acordo permite criar áreas marinhas protegidas em alto-mar e regular a atividade humana em 60% dos oceanos mundiais.

O nível médio do mar subiu 20 cm entre 1901 e 2018, com uma taxa de 3,7 mm/ano entre 2006 e 2018. A temperatura dos oceanos aumentou 1,5°C no último século. A acidificação oceânica cresceu 30% desde a era pré-industrial. 37,3% dos estoques pesqueiros marinhos estão sendo explorados acima da capacidade de reprodução.

Entre os principais problemas em discussão no evento, está o impacto do transporte marítimo e da poluição plástica. A Organização Marítima Internacional estabeleceu meta de neutralidade de carbono até 2050. Calcula-se que 15 toneladas de plásticos são descartadas nos oceanos a cada minuto. Resíduos plásticos representam 85% dos materiais poluentes oceânicos.



Fonte ==> Gazeta do Povo e Notícias ao Minuto

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