21 de abril de 2025

Em seu programa de rádio, Bob Dylan falava de birita – 27/03/2025 – Daniel de Mesquita Benevides

Em seu programa de rádio, Bob Dylan falava de birita - 27/03/2025 - Daniel de Mesquita Benevides

“Olá, amigos. Bem-vindos ao Theme Time Radio Hour. Quem fala é seu apresentador, Bob Dylan. Parafraseando Alexandre Dumas, em ‘O Conde de Monte Cristo’, ‘estou encantado de ver vocês aqui’. Isso me faz esquecer, por uns momentos, que toda felicidade é fugidia.”

Assim começava o Theme Time Radio Hour, programa semanal de rádio, que foi ao ar de 2006 a 2009. Cada episódio trazia um tema, que ia de “mãe” e “dinheiro” a “beijo” e “trens”. Dylan lia e-mails, atendia ligações dos ouvintes, contava piadas, recitava poesia e tocava uma seleção de músicas ligadas ao tema.

Por duas vezes o assunto foi bebida. Na primeira delas, Dylan apresentou assim o programa: “O mundo das libações, da birita, da bebedeira, da caninha, da bebida clandestina, da aguardente, do destilado, do levanta-defunto, do gim com suco, do mé caseiro, do combustível puro”.

Um mundo raiz, sem frescuras ou sofisticações. Raiz como as canções escolhidas: folk, blues, country, rockabilly, soul —e uma inusitada “chanson” de Charles Aznavour. Solícito, o autor de “Tangled up in Blue” revelou suas bebidas favoritas: bourbon com Coca-Cola (um cuba libre 100% ianque) e o clássico mint julep.

Na segunda vez centrou foco no uísque, o “intoxicante de âmbar”. Dylan explicou que a ideia surgiu quando ele lançou sua marca de bourbon e rye whiskey, chamada Heaven’s Door, alusão à música “Knockin’on Heaven’s Door”. A propaganda foi na linha “experimente para ver se você gosta”. O rótulo tem a imagem de uma escultura feita por ele.

A longa playlist traz “Alabama Song”, de Brecht e Kurt Weill, gravada pelos Doors, aqui na voz impressionante de Lotte Lenya, “Jockey Full of Bourbon”, de Tom Waits, “Whiskey River”, de Willie Nelson, além de canções com Van Morrison, Sinatra, Julie London e Louis Armstrong.

O próprio Dylan poderia estar nessa lista ou na primeira. “Just Like Tom Thumb’s Blues”, composição “de fuga” (a um México mítico) que, de acordo com Andy Gill, em “Bob Dylan – The Stories Behind the Songs 1962-1969”, faz um aceno a Rimbaud, traz os versos “meus dedos estão presos num nó/ não tenho forças/ pra levantar e pegar outra dose” e “comecei com burgundy/ mas logo passei pros destilados”.

O “narrador” também foge com “Magdalena” ao país vizinho em “Romance in Durango”. Depois de se sentarem à sombra e verem o toureiro sozinho na arena, “bebem a mesma tequila que seus avós/ quando entraram com Villa em Torreón”, referindo-se a uma batalha da Revolução Mexicana.

Em “Sara”, que pode ou não ter sido escrita para sua mulher, Dylan “lembra” quando dormiram “numa floresta ao lado do fogo” e beberam “rum branco num bar em Portugal”. E em “Hurricane”, uma das mais poderosas canções do vencedor do Nobel, “agora os criminosos em seus ternos e gravatas/ estão livres para beber martínis e ver o sol nascer”.

Por fim, no poema “Last Thoughts on Woody Guthrie”, o bardo escreve: “Neste oceano de horas, estou sempre bebendo”.

Jalisco mint julep

12 folhas frescas de hortelã

75 ml de tequila

20 ml de xarope de açúcar (2:1)

2 lances de Angostura

Bata os ingredientes com gelo e coe para uma taça julep com gelo moído. Decore com folhas de hortelã



Fonte ==> Folha SP

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