11 de junho de 2025

Erro pode ter prejudicado parte dos dados do Censo sobre religião – 09/06/2025 – Juliano Spyer

Erro pode ter prejudicado parte dos dados do Censo sobre religião - 09/06/2025 - Juliano Spyer

O Censo 2022 mostrou que o crescimento dos evangélicos desacelerou: o aumento foi de 6,5% entre 2000 e 2010 e de 5,2% entre 2010 e 2022. Mas, sem os dados por denominação —que o IBGE optou por não divulgar desta vez—, fica mais difícil entender o que essa desaceleração significa para o país.

A pergunta do Censo sobre esse tema foi: “Qual é a sua religião ou culto?”. Em 2010, ao analisar declarações de evangélicos, o IBGE dividiu as respostas em três subcategorias: igrejas de missão, pentecostais e não determinadas. Também apresentou, sob cada bloco, o número de membros de denominações grandes como Assembleia de Deus e Deus é Amor, entre outras com milhares ou milhões de membros.

No Censo de 2022, o IBGE considerou como confiáveis apenas as respostas sobre grandes blocos religiosos: católicos representam 56,7%, evangélicos 26,9%, e o mesmo vale para as demais categorias.

Durante a apresentação dos resultados à imprensa, na semana passada, um dos técnicos atribuiu a dificuldade à “forma como os respondentes declararam suas crenças”. Ele justificou dizendo que “neste Censo, as declarações não foram tão completas como vinham sendo nos anteriores”.

Qual a probabilidade de que milhões de brasileiros tenham respondido corretamente à mesma pergunta em 2010 e, 12 anos depois, tenham deixado de fazê-lo? É mais convincente falar sobre o elefante na sala: o IBGE enfrenta dificuldades financeiras graves e, por isso, salta etapas na realização de tarefas básicas, como treinar recenseadores e checar os dados coletados.

Três interlocutores me relataram, a partir de conversas privadas com funcionários do IBGE, que teria havido um erro técnico na coleta de dados. Essa falha teria aumentado o número de membros de uma das denominações, comprometendo os demais dados relacionados às igrejas evangélicas.

Ao não divulgar essa informação, perdemos a capacidade de medir a força política das grandes denominações nas próximas eleições. Também deixamos de acompanhar o avanço das pequenas igrejas independentes —um movimento detectado pelo Ipea que enfraquece o poder de articulação dos líderes religiosos tradicionais.

O IBGE alega que continua trabalhando e não descarta a divulgação dos dados até o segundo semestre. Torço para que divulguem as informações detalhadas das demais categorias.

É o caso de “Outras religiosidades”, que inclui Testemunhas de Jeová, uma denominação que não se identifica como evangélica, mas tem grande proximidade com o protestantismo. Conhecer o tamanho dessa denominação —que em 2010 tinha quase 1,4 milhão de membros— é importante para compreender o alcance da influência evangélica.

Haveria uma pressão interna para que o IBGE não reconheça esse erro, com receio de comprometer a credibilidade das informações já divulgadas e das que ainda virão.

O IBGE acerta ao divulgar apenas os dados que considera confiáveis. Mas erra ao não explicar com clareza por que parte das informações não foi publicada. Admitir o erro técnico ocorrido na gestão anterior pode fortalecer o debate público e reafirmar a importância do instituto para o país.



Fonte ==> Folha SP

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