Com curadoria de Daniel da Hora, a mostra da artista Pricila Saulus mistura arte, ciência e mitologia africana.
A Estação Cabo Branco, em João Pessoa, recebe a partir de 6 de novembro de 2025 a exposição “Cosmogênese”, da artista Pricila Saulus.
Com curadoria de Daniel da Hora, a mostra propõe um mergulho nas origens da vida e na interconexão entre passado e futuro, unindo saberes ancestrais, descobertas científicas e o olhar sensível de uma artista que traduz o mundo de forma singular, Pricila é autista e transforma sua percepção em um convite à contemplação e à empatia.
Inspirada na mitologia iorubá sobre a criação do mundo, “Cosmogênese” parte da narrativa segundo a qual céu e terra estavam contidos dentro de uma cabaça primordial que, ao se romper, deu origem a tudo que existe.
A partir dessa simbologia, Pricila constrói um diálogo entre espiritualidade e ciência, associando a metáfora da cabaça à estrutura atômica e à composição do carbono, elemento que sustenta toda forma de vida.
O projeto reúne quadros e esculturas que exploram textura, densidade e cor como linguagem. O uso do grafite, forma pura de carbono, é uma escolha conceitual e poética.
Para a artista, ele representa um elo direto com o princípio da existência, “uma memória ancestral inscrita na própria matéria, o grafite é o testemunho da vida que habita todas as coisas”, afirma Pricila.
Entre as obras mais impactantes, uma escultura revestida com tinta Black 4.0 chama a atenção pela intensidade visual. Desenvolvida pelo coletivo britânico Culture Hustle, liderado por Stuart Semple, a tinta absorve 99,5% da luz visível.
A escolha não é apenas estética, mas também política: a cor foi criada em resposta ao monopólio do artista Anish Kapoor sobre o uso da Vantablack, pigmento até então considerado o mais preto do mundo.
Ao adotar o Black 4.0, Pricila reivindica o direito de que a arte e seus instrumentos pertençam a todos, um gesto de resistência e partilha.
Em “Cosmogênese”, o preto absoluto simboliza o vazio anterior à criação, o instante em que tudo era potência.
Nas mãos da artista, o escuro deixa de ser ausência e se torna origem: o útero do mundo.
A exposição se estrutura como uma travessia sensorial, onde cada obra propõe um diálogo entre ciência e ancestralidade, convidando o público a reconhecer que a história da vida, seja contada pelos mitos africanos ou pelas leis da física, compartilha o mesmo ponto de partida.
Com curadoria delicada e potente de Daniel da Hora, “Cosmogênese” celebra a coexistência dos saberes e reafirma que arte, ciência e espiritualidade são linguagens de uma mesma busca: compreender o mistério de existir.
📍 Serviço:
Exposição “Cosmogênese” – Pricila Saulus
📅 Abertura: 6 de novembro de 2025
📍 Local: Estação Cabo Branco, João Pessoa (PB)
🕒 Visitação: terça a domingo, das 9h às 18h
🎨 Curadoria: Daniel da Hora
🔗 Entrada gratuita


