7 de dezembro de 2025

Gilmar, Master e Lulinha ilustram poder da blindagem – 06/12/2025 – Elio Gaspari

O ministro Gilmar Mendes, decano do STF

Houve um tempo em que o poder de uma pessoa podia ser medido pela sua capacidade de abrir portas. Hoje, mede-se também pela sua capacidade de fechá-las.

Depois da demolição da Lava Jato esse movimento era previsível, numa escala menor.

1 – Gilmar blinda o Supremo

Num espaço de poucos dias, o ministro Gilmar Mendes passou a tranca no direito dos cidadãos de abrir processos de impedimento de juízes do Supremo Tribunal Federal. De agora em diante, só quem pode fazer isso é o procurador-geral da República. Pode parecer que o ministro queira blindar o tribunal diante da possibilidade de a oposição conseguir no ano que vem o número de senadores capazes de impedir os ministros Alexandre de Moraes e Flávio Dino. Parece e é isso mesmo.

2 – Toffoli tranca o Master

Voando mais baixo, o ministro Dias Toffoli determinou que qualquer processo ou investigação referente ao Banco Master passe ao seu gabinete. O banco de Daniel Vorcaro produziu ligações perigosas e um rombo de R$ 12 bilhões. A defesa dos diretores do Master pedia a suspensão ampla, geral e irrestrita das investigações, não foi atendida, mas no mesmo dia a Polícia Federal congelou seu trabalho.

O processo do Master passou a tramitar sob sigilo.

3 – A CPI não ouvirá Lulinha

Na quinta-feira, a CPI do roubo contra aposentados derrubou por 19 votos contra 12 o pedido de convocação de Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha. Horas antes, a repórter Mariana Hubert havia revelado que Edson Claro, ex-funcionário do Careca do INSS, contou à CPI que Lulinha recebeu do finório cerca de R$ 25 milhões, com mesadas de R$ 300 mil para alavancar licitações no Ministério da Saúde.

Quem conhece os escurinhos de Brasília estranha essas cifras. É muito dinheiro.

Lulinha vive hoje na Espanha e padece por sua filiação, mas uma CPI que já blindou Frei Chico, ou José Ferreira da Silva, irmão mais velho de Lula, foi rápida ao fechar a porta. Frei Chico é diretor e vice-presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados.

Em 2020 o Sindinapi recebeu do governo R$ 23,3 milhões por conta de cobranças feitas a aposentados. Em 2024 os repasses para o Sindinapi subiram para R$ 154,7 milhões. Em abril passado, quando roubalheira das entidades foi exposta, Frei Chico disse que esperava a apuração de “toda a sacanagem que tem” no INSS.

A CPI decidiu não convocá-lo.

O troco do Congresso

Hoje, o troco que o Congresso dará ao governo e ao Supremo Tribunal será o seguinte:

Será aprovada uma emenda constitucional elevando de 11 para 13 o número de ministros do tribunal.

As duas novas cadeiras serão preenchidas por indicados pelo Senado e pela Câmara.

Na primeira escolha, o Senado indicará o ex-presidente Rodrigo Pacheco. Um tapa de luva em Lula, que o preteriu. A Câmara poderá indicar o deputado Marcos Pereira, presidente do Republicanos. Dois mineiros.

Para quem quer soprar as brasas de uma crise institucional, é uma ótima ideia.

Cama de gato

Alguns senadores esperavam receber a indicação de Jorge Messias para derrubá-la com 54 votos.

54 é o número de senadores necessários para impedir um ministro do Supremo.

Isso explicaria a pressa de Gilmar Mendes para entregar ao procurador-geral a prerrogativa de abrir o processo.

Gilmar e Alcolumbre

Ao blindar os ministros do Supremo, Gilmar Mendes tirou das cordas o presidente do Senado, Davi Alcolumbre.

O presidente do Senado faz milagres com indicações para cargos do Judiciário.

Um conhecedor da vida de Brasília garante: pelo menos dois ministros do Supremo foram salvos pelo gongo do Planalto. Um caiu na Comissão de Constituição e Justiça; o outro, no plenário.



Fonte ==> Folha SP

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