Autoridades militares de Burkina Faso anunciaram na noite desta segunda-feira (21) ter desarticulado um “grande complô” destinado a promover um golpe de estado e “semear um caos total” no país da África do Oeste.
O anúncio foi feito pelo Ministro da Segurança, Mahamadou Sana, que indicou que os líderes desta desestabilização estariam baseados na Costa do Marfim, cujo governo do presidente Alassane Ouattara é aliado aos interesses da França na região.
Segundo o ministro, o plano dos “terroristas” seria executado no dia 16 de abril de 2025, por meio de um assalto à presidência de Burkina Faso, promovido por soldados recrutados pelos “inimigos da nação”. O assalto estava planejado para ocorrer simultaneamente a outros ataques terroristas de grande escala.
O Ministro acrescentou que os mandantes do complô ainda seguem ativos na capital do país vizinho, Abidjan. “Os cérebros em fuga fora do país estão todos localizados na Costa do Marfim”, declarou Sana em anúncio na TV estatal do país, a RTB. O ministro citou nominalmente o Comandante Joanny Compaoré e o Tenente Abdramane Barry, descritos como desertores que teriam fugido para o país vizinho.
O complô teria sido identificado após o governo interceptar mensagens entre um militar burkinabé e chefes de grupos terroristas, contendo detalhes sobre posições das forças de defesa e segurança e sobre as operações militares. De acordo com o governo, as informações enviadas aos terroristas visavam escalar os ataques contra as forças de segurança e civis do governo de Ibrahim Traoré, visando “suscitar a revolta contra as autoridades”.
Lideranças religiosas e tradicionais também teriam sido contatadas para convencer militares a se associarem ao projeto de golpe de Estado. O objetivo seria “colocar o país sob tutela de uma organização internacional”.
Prisões de militares
Os rumores de golpe de Estado levaram à detenção de vários oficiais e suboficiais militares burkinabés nas últimas semanas. Entre eles Frédéric Ouedraogo, ex-comandante do batalhão de justiça militar, e o Capitão Elysée Tassembedo, comandante do Agrupamento das forças de segurança do setor norte. O Capitão Ibrahim Traoré, chefe da junta militar que governa o país, apelou à vigilância, declarando que os “apátridas, os inimigos da nação são muito ativos” e que eles os “esperam firmemente” e serão “impiedosos”.
O ministro Sana concluiu seu anúncio encorajando as forças armadas a “prosseguir com sua missão” e convidando a população a “permanecer serena e vigilante” e a “sinalizar toda a atividade suspeita”. O anúncio do ministro da Segurança pode ser assistido na íntegra no vídeo abaixo, ativando as legendas em português.
Outras tentativas de golpe
Esta não é a primeira vez que as autoridades militares do país anunciam uma tentativa de golpe de Estado. Em 2024, Traoré já havia afirmado a existência de um “centro de operações para desestabilizar” o país instalado em Abidjan. Em setembro do mesmo ano, a junta anunciou ter desarticulado “várias tentativas de desestabilização”, apresentando o antigo presidente da transição, Tenente-Coronel Paul Henri Sandaogo Damiba, como o chefe do “segmento militar deste complô”.
Em meio a este cenário, Ouagadougou diz ter solicitado a Abidjan a extradição de políticos e militares acusados de “complô contra o Capitão Ibrahim Traoré”. Os pedidos, no entanto, são negados pelo governo da Costa do Marfim.
Tensão entre Burkina Faso e Costa do Marfim
A tensão entre os dois países vizinhos se intensificou após a Costa do Marfim condenar o golpe de estado no Níger, em 26 de julho de 2023, e apoiar a posição da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) de intervir militarmente para reintegrar o ex-presidente Mohamed Bazoum, deposto após um levante militar e popular tomar as ruas do país.
A CEDEAO, na época, impôs severas sanções econômicas ao Níger, consideradas “desumanas, ilegais e ilegítimas” pela população do país e seus governantes.
Em resposta, Mali, Níger e Burkina Faso anunciaram a saída do bloco econômico, formalizada em janeiro deste ano, e a criação da Aliança dos Estados do Sahel (AES) que, não só reforçou a cooperação econômica entre os seus membros, mas também se consolidou como um importante pacto militar contra ameaças externas.
Fonte ==> Brasil de Fato