Imigração e criminalidade foram alguns dos temas importantes na eleição do Chile, no domingo (14). A visão da população sobre esses assuntos traz questões interessantes com implicações que vão além do tema e do país em questão.

Em artigo publicado em 2023, Nicolás Ajzenman, Patricio Dominguez e Raimundo Undurraga buscaram estimar como fluxos de imigrantes afetavam: 1) as percepções da população sobre o crime; e 2) a ocorrência de crimes no Chile.

O primeiro conjunto de resultados mostrava que pessoas que viviam em áreas com maiores fluxos de imigrantes se mostravam mais preocupadas com a criminalidade. Quanto maior a imigração na cidade, maior a taxa de pessoas investindo em segurança em suas casas e reportando preocupação com o crime em pesquisas.

Esses resultados são coerentes com os relatos sobre a eleição chilena ligando imigração a um aumento na percepção sobre criminalidade.

Contudo, o segundo conjunto de resultados dessa pesquisa mostrava que não há efeito detectável de fluxos migratórios na ocorrência de crimes. Ao que parece, um maior número de imigrantes gera preocupações infundadas com a criminalidade.

Temos certeza de que esses resultados estão certos? Não, mas essa é a melhor informação que temos sobre esse assunto. Os autores combinam diversas bases de dados e usam as técnicas estatísticas mais bem-aceitas pela literatura para identificar os efeitos de fluxos migratórios.

Dá para acreditar que boa parte da população tem uma percepção errada sobre o tema? Sim, e os autores mostram que crimes cometidos por imigrantes recebem, em média, mais atenção da imprensa e que os efeitos de imigração sobre percepção de insegurança são maiores em cidades com mais estações locais de rádio.

É verdade que imigração não afeta criminalidade no mundo inteiro? Até onde sabemos, na maior parte dos casos, sim, mas nem sempre. A maioria dos estudos de fato não acha efeito relevante da imigração na criminalidade, mas há contextos em que fluxos de imigrantes parecem aumentar a ocorrência de crimes (caso da Alemanha recebendo migrantes da extinta União Soviética) e outros em que parecem reduzir a criminalidade (caso da Malásia em tempos recentes).

Claro, o descompasso entre percepções e fatos não é exclusividade dessa questão no Chile.

Quem lê o jornal, em geral, está tentando aprender e se informar, contribuindo com a democracia e com o processo de formular boas políticas públicas.

Alguns de nós têm a pretensão de achar que sabem alguma coisa e a esperança de poder ensinar quem quer aprender. A combinação dessas duas características me leva a escrever colunas no jornal. Certo ou errado, tento contribuir para os debates que influenciam votos e políticas públicas.

Que estejamos dispostos a aprender e ensinar são meus votos para 2026. Espero que tenhamos vontade de participar dos debates, humildade para escutar e coragem para mudar de opinião. Assim, estaremos no caminho para natais mais felizes e anos novos mais prósperos.