O setor têxtil brasileiro ocupa posição estratégica na economia nacional, reunindo mais de 25 mil empresas formais, gerando milhões de empregos diretos e indiretos e movimentando bilhões de reais por ano.
Apesar de sua relevância, enfrenta uma série de desafios estruturais: a concorrência com produtos importados de baixo custo, a elevada carga tributária interna, os gargalos logísticos e a necessidade de maior investimento em tecnologia e inovação.
Nos últimos anos, o comércio exterior ganhou peso ainda maior nesse contexto. Dados da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção) mostram que, em 2023, as importações do setor ultrapassaram 6 bilhões de dólares, com predominância de produtos vindos da Ásia, especialmente da China e do Vietnã. O Brasil, ao mesmo tempo em que é grande produtor, também é um dos maiores importadores de têxteis, o que gera um paradoxo: a indústria nacional luta para manter competitividade, enquanto o consumo interno é cada vez mais abastecido por fornecedores externos.
Segundo o empresário Gustavo Schelbauer, que já movimentou mais de 400 milhões de dólares em operações internacionais e comanda empresas de destaque no setor, o equilíbrio passa por encontrar estratégias que unam eficiência operacional e políticas públicas mais consistentes. “O Brasil tem capacidade produtiva, mas precisa enfrentar desafios estruturais. A logística é cara, os tributos são elevados e a concorrência internacional é feroz. O empresário que atua nesse mercado precisa ser estratégico, pensar globalmente e ao mesmo tempo buscar eficiência local”, afirma.

Para Schelbauer, o setor só se fortalecerá se houver estímulo a políticas que incentivem inovação, modernização tecnológica e melhores condições para a indústria nacional competir em igualdade de condições com o mercado externo. Além disso, ele ressalta a importância de uma estratégia empresarial de longo prazo, com foco em diversificação de fornecedores e otimização de custos. “Não se trata apenas de importar ou produzir. É preciso estruturar cadeias inteligentes de fornecimento e ter clareza de onde estão as vantagens competitivas do Brasil”, completa.
O impacto das importações não é apenas econômico. Ele se reflete também na geração de empregos e na sustentabilidade da cadeia produtiva. Setores como o de confecção e moda dependem da competitividade dos insumos para oferecer preços atrativos ao consumidor final. Se por um lado as importações reduzem custos e ampliam a variedade de produtos, por outro pressionam a indústria nacional, que perde espaço e capacidade de gerar empregos de qualidade.
A discussão sobre competitividade no setor têxtil não é apenas um debate empresarial, mas uma questão de política econômica nacional. Em um país em que o consumo interno é robusto e a população jovem mantém alta demanda por moda e vestuário, criar condições para que a indústria e os importadores convivam de forma equilibrada será determinante para o futuro do setor.