O Brasil convive há décadas com um paradoxo: enquanto as cidades crescem em ritmo acelerado, a infraestrutura urbana muitas vezes não acompanha essa expansão, gerando gargalos de mobilidade, drenagem precária e desgaste acelerado de pavimentos. A falta de planejamento integrado tem custado caro, tanto em recursos públicos quanto em qualidade de vida da população. No entanto, um novo conceito começa a ganhar força entre especialistas e gestores: a infraestrutura sustentável, que alia durabilidade, eficiência e responsabilidade ambiental.
Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) indicam que o déficit de infraestrutura urbana no país supera R$ 500 bilhões, considerando obras de pavimentação, saneamento e mobilidade. Além disso, o Brasil desperdiça bilhões de reais todos os anos com a manutenção precoce de vias e estruturas que não resistem ao tempo, justamente pela falta de aplicação de tecnologias adequadas e de soluções que considerem os impactos ambientais.
Nesse cenário, ganha destaque o uso de pavimentos permeáveis, drenagem inteligente e concreto de alta durabilidade, tecnologias já presentes em diversos países e que começam a ser aplicadas em projetos brasileiros. Além de ampliar a vida útil das obras, essas soluções reduzem enchentes, melhoram a gestão de águas pluviais e diminuem os custos de manutenção.
Segundo o especialista Márcio Bontorin, engenheiro civil com 13 anos de experiência em obras industriais e urbanas, a engenharia nacional precisa adotar de forma definitiva esse novo modelo. “Infraestrutura sustentável não é tendência, é necessidade. Quando utilizamos pavimentos permeáveis ou concreto de maior durabilidade, não estamos apenas melhorando uma rua ou avenida. Estamos garantindo que essa obra sirva às próximas gerações, com menos custo e mais eficiência”, afirma.

Márcio destaca ainda que o impacto vai além da engenharia técnica. “Cada obra é também uma política pública. Se pensarmos em soluções sustentáveis, criamos cidades mais seguras, inclusivas e com melhor qualidade de vida. É um investimento que gera retorno econômico e social”, completa.
Nos últimos anos, a busca por soluções de baixo impacto vem se consolidando em projetos de grande porte e também em iniciativas locais, especialmente em comunidades que antes eram esquecidas pela infraestrutura básica. A aplicação de novas tecnologias, quando aliada a um planejamento urbano responsável, pode transformar o cenário de abandono em oportunidades de desenvolvimento.
O futuro das cidades brasileiras dependerá da capacidade de unir crescimento econômico e planejamento sustentável. O desafio é grande, mas exemplos recentes mostram que é possível transformar realidades com soluções inteligentes, que conciliam inovação, responsabilidade ambiental e impacto social.