Avanço da IA transforma o cérebro humano em múltiplas dimensões
A popularização da inteligência artificial transformou o tema em pauta recorrente entre executivos e conselhos de empresas. O que muitos ainda tratam como uma novidade já é, na prática, uma realidade consolidada. E o ritmo dessa mudança deve se acelerar ainda mais nos próximos anos.
Ao mesmo tempo em que a IA revoluciona processos, ela provoca transformações significativas no cérebro humano. É o que aponta o neurocientista Andre Cruz, fundador e CEO da Neura, especialista em Neurociência e Comportamento.
Segundo ele, essas alterações ocorrem tanto no nível cognitivo quanto no comportamental, exigindo das empresas uma revisão de suas estruturas organizacionais e, sobretudo, da mentalidade corporativa.
“O impacto da IA na mente humana exige uma nova abordagem cultural nas empresas. Pessoas, pessoas, pessoas”, afirma Cruz.
Inteligência humana e artificial funcionam de formas diferentes
Enquanto o ser humano é dotado de empatia, criatividade e inteligência emocional, a IA opera com base em dados, estatísticas e probabilidades.
Por isso, a convivência entre os dois sistemas — o biológico e o computacional — exige atenção especial para que os benefícios sejam potencializados sem comprometer o desenvolvimento mental e emocional das pessoas.
Efeitos positivos já observados no cérebro
De acordo com Andre Cruz, a neurociência vem ajudando a compreender como o cérebro humano reage às interações com a inteligência artificial.
Entre os efeitos positivos já mapeados, estão:
– Aprimoramento da plasticidade cerebral, com adaptação neural acelerada;
– Melhoria da tomada de decisão, apoiada por análises de dados avançadas;
– Personalização do ensino, conforme o perfil cognitivo do usuário;
– Estímulo à criatividade, com insights e sugestões inovadoras;
– Aumento da eficiência cognitiva, ao liberar tempo para tarefas mais estratégicas;
– Simulações emocionais que ajudam na regulação de ansiedade e emoções.
Desafios e efeitos negativos também se acumulam
Apesar dos avanços, os riscos são igualmente relevantes.
Cruz cita como principais efeitos negativos:
– Redução da atenção e superficialidade cognitiva, causadas pelo excesso de informação e estímulos curtos;
– Dependência de respostas prontas, que enfraquece o pensamento crítico;
– Reconfiguração do sistema de recompensa cerebral, reforçando padrões imediatistas;
– Redução da memória de longo prazo, devido à facilidade de acesso à informação;
– Comprometimento da empatia e das habilidades sociais, com menos interação humana;
– Vício em tecnologia e distúrbios do sono;
– Dificuldade das novas gerações em lidar com adversidades e frustrações.
“O ser humano sobreviveu historicamente por meio da convivência em grupo. A substituição do contato humano por interações com IA pode afetar esse senso de pertencimento”, avalia.
Tendências futuras: oportunidades e riscos
Para Andre Cruz, o futuro traz novas possibilidades que podem ampliar a capacidade cognitiva e emocional dos indivíduos.
Entre os avanços positivos esperados estão:
– Integração entre cérebro e máquina, por meio de interfaces neurais;
– Expansão da inteligência coletiva com colaborações globais mediadas por IA;
– Apoio ao autocontrole emocional e à tomada de decisões;
– Diagnósticos mais precisos para doenças neurológicas;
– Sistemas cognitivos de apoio, que funcionam como “memórias externas”;
– Avanços na neurociência com uso de big data e modelos estatísticos;
– Novas terapias voltadas ao bem-estar e cultivo de emoções positivas.
Por outro lado, ele alerta para efeitos colaterais em potencial:
– Erosão da identidade cognitiva, com perda de individualidade;
– Desconexão da realidade, ampliada por experiências imersivas e realidades simuladas;
– Manipulação cognitiva e influência inconsciente nas decisões;
– Redução da resiliência mental frente a desafios;
– Ampliação das desigualdades cognitivas entre grupos sociais;
– Aumento do tempo de tela com impactos na atenção e saúde mental;
– Dificuldade para compreender e tratar emoções de forma integrada.
Cultura organizacional precisa equilibrar tecnologia e cognição
Diante desse cenário, Cruz defende que empresas e instituições educacionais desenvolvam estratégias para integrar a inteligência artificial ao cotidiano sem comprometer as funções humanas mais relevantes.
“É essencial equilibrar a adoção da IA com o fortalecimento das habilidades humanas. Assim, poderemos maximizar os benefícios da tecnologia sem comprometer a autonomia e a capacidade cognitiva da própria humanidade”, afirma.
Fonte ==> Casa Branca